Este texto foi digitalizado de um livro feito em 1922, os texto não esta 100% digitalizado por conta do livro ser muito antigo e ter algumas falhas. Mais fica aqui algumas informações de como era Canhotinho naquela época.

 

Batista de almeida e Cícero Siqueira

 

 

O

 

Centenário da indecência

EM 

CANHOTINHO

 

 

 

1922

 

 

 

 

 

 

 

IMPRENSA INDUSTRIAL – 1 Nery da Fonseca

 

 

 

 

 78 e 82 – Rua Visconde de Itaparica -78 e 82

RECIFE – PE -  1922

 

 

Ao Leitor

 

 

 

 

 

 

Já não somos mais uns visionários na expressão
mui apropriada de uma ilustre educadora, a quem, na
intimidade, revelamos a ideia da elaboração desta obra.
O livro que prometemos publicar sob o título O Centenário da Independência em Canhotinho aqui está enfrechando em suas páginas a grandeza imortal das festas que Canhotinho realizou em comemoração ao Centenário da Independência Nacional. 

 

 

 

 

Esquecendo a série de dificuldades que nos pareceram, a todo momento, para impedir, talvez, a consumação de tão penoso trabalho, só precisamos de dizer a quem nos lê, que nos sentimos felizes na contemplação do triunfo, que ora se anuncia alvissareiro para os destinos de Canhotinho, Este Município tem hoje um livro seu e só seu, onde se historiam não somente as homenagens que prestou á; Pátria na data gloriosa de 7 de Setembro de 1922, como ainda toda a sua vida passada, injustificavelmente esquecida até os presentes dias. 

 

 

Apraz-nos proclamar que não fizemos literatura e nem tampouco assinalamos episódios fantásticos na elaboração do deste “O CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA”; a verdade dos fatos foi a nossa única preocupação. Tomando os críticos em máxima consideração esta circunstância que, em verdade, nós e grandemente favorável, de agora estamos certos que bondosamente vamos ser recebidos, no mundo da publicidade onde não chegarão a ser apontados e ridicularizados as incongruências e omissões que revertem este livro, produto das nossas boas intenções e do ardente desejo de bem servimos a posteridade.

 

 

 

Canhotinho – novembro de 1922

 

                 

 

                                BATISTA DE ALMEIDA                    CÍCERO SIQUEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

PRIMEIRA PARTE

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo histórico

 

São deficientíssimos os dados históricos deste Município. Não existem arquivos, nem documentos com os quais se possam relatar os seus primórdios, afora o que a respeito sabe o Tenente Eduardo José de Mello, o ancião centenário, que ainda hoje nos dá a prova da sua fidalguia e do seu bom coração concedendo-nos informações para a elaboração desta obra, e o que nos dizem alguns decretos dos governos, só nos fala do passado de Canhotinho um precioso manuscrito que o Farmacêutico Henrique José dos Santos, avô dos Srs. Motta & Irmãos, comerciantes nesta praça, deixou com a sua morte. Nestas condições podemos dizer que a história desta terra se acha no cérebro daquele ancião, já cambaleado pelo peso de cem anos e sete meses, e no diário íntimo desse outro, que a morte levou, cinco anos atrás.

Tenente Eduardo aqui chegou em 1848, encontrando duas casas pertencentes: uma, a José das Neves, localizada à beira de um caminho e que mais tarde serviu de alinhamento à rua hoje chamada Rua da Estação, e a outra, a João Vidal dos Santos, no local onde se acha, atualmente, a casa comercial dos referidos Srs. Mota & Irmãos. Era proprietário das terras o Sr. José das Neves, que residia no legar hoje chamado Sitio Tabocas.

Ao lado da casa no Sr. João Vidal dos Santos levantou-se, nesse tempo, um telheiro tosco a que se deu o nome de Capela.

     No mesmo ano de 1848 o Padre Lima veio de Pau Ferro celebrou em dita Capela a primeira missa. 

Em 1849 o Tenente Eduardo foi a S. Bento pedir ao Padre Nemesio que se intensasse pela nova Capela e com o proprietário. José das Neves conseguisse, para a mesma, um patrimônio, esse sacerdote escreveu então ao Padre Lima, ordenando-lhe que se entendesse pessoalmente com José das Neves e, caso este não desse o patrimônio exigido, retira se ele, Padre Lima, dita capela de suas terras, José das Neves que estava satisfeito e tinha muito interesse em ver conservada a Capela em sua propriedade, imediatamente aquiesceu ao pedido ou intimação do Padre Nemesio, dando de patrimônio uma área de terra de 500 metros mais ou menos .Até então nenhum nome tinha o local a que fazemos alusão.      

Em fins desse mesmo ano de 1849. Porém, os passageiros, devido a uma volta que o caminho dava cercando um poço formado pelo rio Canhoto, começaram a chamá-lo de Volta. Sob a jurisdição de S. Bento teve então Volta. Na pessoa do Tenente Eduardo. O seu primeiro Inspetor de Quarteirão, isto ainda no referido ano, prestando em Garanhuns, este funcionário, o seu exame de habilitação. Nesse cargo, permaneceu o Tenente Eduardo até 1850, quando foi nomeado Subdelegado.

Em 1851 foram nomeados. Juiz de Paz o Sr. Francisco Inácio de Paiva e seu Escrivão o mesmo Tenente Eduardo José de Mello. 

Em 1852; devido ao rio que marginava o já então povoado de Volta, foi a este dado o nome de Canhoto, nome que mais tarde teve de ser alterado por um missionário que por aqui passou em Santas Missões, para o de São Sebastião de Canhotinho, ainda hoje conservado. Pouco a pouco foi então Canhotinho se povoando até que, em 1856, em um domingo, teve lugar a primeira, Feira. Era nesse tempo, o Sr. Francisco dos Santos vindo de Santo Antão, o seu primeiro negociante.   

 

OS QUE DESVENDARAM O PASSADO DE CANHOTINHO

 

 

Farmacêutico Henrique José dos Santos, cujo "Diário" intimo deixado com sua morte em 1917 e compilado pela Snr. Cicero Siqueira, constituiu o. melhor subsidio para a elaboração do histórico de Canhotinho.

 

 

 

Tenente Eduardo José de Mello, que completando na data do centenário uma existência de 100 anos e 7 meses, prestou, com clareza de Ideais, ao Dr. Batista de Almeida, informes valiosos para a organização da história do Município. 

 

 

Administrado pelas famílias Paiva e Mello. Foi Canhotinho crescendo e progredindo, sendo, a 1º de julho de 1882, quando Presidente da Província de Pernambuco, o Conselheiro José Liberato Barroso, criada a sua Freguesia chamada Freguesia de São Sebastião de Canhotinho, cuja sede foi a povoação do mesmo nome, tudo jurisdicionado ao termo de S. Bento, que Por sua vez pertencia, nesse tempo, á comarca de Garanhuns 

Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa Provincial decretou e o Conselheiro José Liberato Barroso Presidente sancionou a lei que mandava dar 2.000$,000 para as despesas e obras da Igreja de canhotinho. 

No dia 22 de outubro de 1884 chegou aqui o Senador
Luiz Felipe de Souza Leão acompanhado dos Drs.
Lustosa Morada, Jacobine e outros. Encantado o Dr.
Souza Leão pelo acolhimento fidalgo que teve. Prometeu
que, na Assembléia do ano seguinte, se interessaria pelo
melhoramento da freguesia. 

Em a quinta-feira de 15 de março de 1885 Dr. Pinto Ribeiro marcou o local onde deva deveria ser edificada
a estação da Linha de ferro, e a 2 de setembro do mesmo ano o Subempreiteiro Portela Junior entregava ao Major Victorino, pronta a referida estação, havendo nessa ocasião, fogos, musica, um banquete de 70 talheres e animado baile oferecido pelo dito Subempreiteiro ao Dr. Souza Reis.

Criou-se nesse tempo o distrito de Calçado, ainda no ano de 1885 foram numeradas todas as casas e dados nomes ás ruas da freguesia. Ao pátio chamou-se Pátio do Comercio a rua que ficava à beira do caminho e por onde se ia a estação da Estação. Rua da Estação; ao trecho que até então era conhecido como rua do Padre Lima. Praça 19 ele agosto, em memória da vitória do Partido Conservador, já que ficava em frente a Egreja. Rua da Conceição; á que ficava à esquerda" Rua do Crespo, ao Largo do Açougue, Largo da Concordia Finalmente a rua que se chamava "Manoel Inácio" Rua São Sebastião. 

No dia 2 de outubro ainda de 1885. A população de
Canhotinho foi despertada pelo sibilo da primeira máquina que, rompendo mil obstáculos, vitoriosamente saudava o povo, sendo recebida a foguetes, música e outras manifestações de regozijo. Eram 5 horas da tarde, chegando, com a máquina estreante, Sousa Leão, última parelha de trilhos a estação. 

No dia 21 de novembro, presentes o Presidente da Província e o Chefe de Polícia, foi oficialmente inaugurada a referida estação e no dia 23 o comércio. Satisfeito pelo grande acontecimento, realizou estrondosa festa, havendo passeata. 

No dia 13 de janeiro de 1886 verificou-se inauguração da primeira máquina a vapor de beneficiar algodão, tendo a caldeira força de 10 cavalos. Era seu proprietário o Sr. Portela Junior. Por esse acontecimento sensacional, houve também muita festa, fogos música e cervejas. 

Por decreto de 28 de junho de 1890, sendo então
governador da Província o Barão de Lucena, foi Canhotinho elevado à categoria de Villa, sendo esta notícia recebida com muita alegria pelo povo, que imediatamente fez subir aos ares várias girandolas. 

Em agosto foi nomeada a primeira Intendência sendo os seus membros os seguintes cidadãos: Francisco Ignácio de Paiva, Presidente; A. Alves Maia Alferes Leopoldino P. A. Rego, Alferes Domingues Cavalcanti, Alferes Paulino de Souza, e a 29 de setembro, viu-se inaugurada a Villa. 

Por decreto nº21 de 2 de outubro do mesmo ano, passou Canhotinho a ser Comarca achando-se no governo do Estado ainda o Barão de Lucena. Tal acontecimento. Fez que Canhotinho delirasse de contentamento e todo o seu povo percorresse as ruas em passeata, soltando fogos e vivas entusiásticos. Tinha ele, até que, alcançado a sua maior aspiração. Novos horizontes se abriam para os destinos nos sem humildes habitantes e só por isto muito justo foi o seu regozijo ao ter notícia do decreto promissor. Com sua magistratura ia Canhotinho, daqui por diante, marchar na vanguarda de outros municípios menos ricos e menos prósperos. Os Drs. Álvaro Uchôa Cavalcanti, José Teixeira de Sá e Leopoldo Cesar de Gusmão, respectivamente Juiz de Direito, Juiz Municipal e Promotor Público, no dia 1 de novembro do referido ano de 1890, instalaram-se solenemente a Comarca, havendo nessa ocasião quatro discursos.

Por decreto de 18 de Fevereiro de 1891, sendo Governador do Estado o Desembargador José Antônio  Correia da Silva, foi criado o distrito de Paquevira  .(Glicério) sendo o mesmo decreto do teor seguinte, relativamente aos seus limites: Começará na Ponte Conceição, linha Férrea, rio Canhoto até Baixa Funda, donde seguirá pela estrada que conduz a Palmeirinha de Domingos Ferreira de Moraes, indo pela estrada de Olho d'Água das Bestas até encontrar os limites do mesmo terreno com a Comarca de Panelas; e seguindo do mesmo, dividia-se-há com o termo de Quipapá e Serra do Boi, Deste lagar seguirá em direção ao riacho Mancam no sitio Canivete, onde limita o, Estado das Alagoas, pela margem do rio Canhoto, até o ponto de partida, na Ponte Conceição.    . 

Por decreto de 18 de março de mesmo, ano foram traçados os limites do distrito de Sobrado, que por sua vez foi criado pelo de 20 de maio do ano anterior. Diz aquele decreto: O distrito policial de Sobrado principiará no rio Canhoto no ponto de intercessor da estrada de Borborema, continuará está até a casa do finado Padre José de Lima e em linha reta pelo recacho Pau podre até o riacho Arcia, pelo qual seguirá até onde Limita o Estado de Pernambuco com o da Alagoas. O primeiro Concelho Municipal eleito a 30 de Setembro desse ano tendo como Prefeito e Subprefeito
João Florentino dos Santos e José Basílio, foi dissolvido
por Decreto da Junta Governativa a 23 de Dezembro,
sendo eleito um outro que ficou assim constituído: Prefeito, Francisco Ignácio de Paiva , Subprefeito, Tenente João Callado Borba , Conselheiros , João Auspirio Chaves, Pedro Luiz d0 Souza Fontes, José Joaquim de Andrade, João Pereira da Silva Vianna, Caetano Paes de Souza, Antônio' Marques de Lima e Silva, Moysés de Azevedo Leite, Manoel. Baptista de Oliveira, sendo nomeado Secretário Luiz 

 

 

Recebeu, a 7 de outubro a visitados missionários Frei
Cassiano Frei Mansueto e Frei Samuel. O fim dessa
visita foi a construção de um templo novo. No dia 22
do mesmo mês estava completamente destruída a igreja
velha e a 7 de novembro colocavam-se festivamente as 8 tesouras da nova matriz. 

 

 

Após essa solenidade foi, pelos dignos missionários, organizada uma comissão composta dos Srs. Tenente
Eduardo José de Mello, Henrique Pereira de Carvalho e Henrique José dos Santos e conferida a ela o encargo
de trabalhar na aludida construção.

Em 24 de dezembro desse mesmo ano de 1893 Frei Cassiano, diante de uma multidão avaliada. Em
5.000 pessoas, benzeu a nova Matriz a mesma de hoje, fazendo comoventes praticas igualmente procedendo 

6 Padre Geminiano.

  Em 1897 vindo de Garanhuns, chegou em Canhotinho o Dr. George W, Butler médico e missionário americano. Recebido a princípio, com certa hostilidade,
pouco a pouco foi o ilustre facultativo se harmonizando com o povo da terra, até fazer um grande número de admiradores, que viam na sua pessoa um bom medico e
um excelente cirurgião, muito recomendado pela bondade do seu coração e pela afabilidade do seu gênio, 

 Possuindo os caracteres dos homens fortes, e concretizando os seus planos em ação com espírito altamente progressista, mostrou-se o Dr. Butler um persistente tralhado, pelo progresso material de canhotinho. Por sua iniciativa foram construídos no Alto Da Parasita um Templo Evangélico, um Colégio e uma casa de saúde, afora outros prédios para residências particulares.
O Dr. Butler fez em canhotinho, com medico operador, uma vida pública de nomeada tornando-se sobejamente conhecido não só no município como em todo o
Estado e até fora dele, fazendo em companhia de seu
filho, também medico, Humphrey Butler, curas admiráveis. 

Canhotinho foi seu tumulo em 1919, e agora, em
1922 também o túmulo de seu filho, grandemente estimado pelos canhotinhenses, que ainda hoje sentem a sua

Dr. George William Butler Missionário protestante e medico de grande nomeada, falecido em 1919 neste Município. Onde clinicou 22 anos.

Perda lembrando os benéficos que lhe prestou no exercício de sua profissão.

    Em 6 de abril de 1899, realizou-se a eleição de novos prefeitos e subprefeitos, elegendo-se respectivamente: Vespasiano Jose de melo e Antônio saturnino de oliveira não tendo comparecido ás urnas o partido de oposição ao situacionismo.

    Em 1900 fatos diversos perturbaram paz do município.

    Em viagem a Jupy foi o seu Paiva emboscado por inimigos seus, que o feriram em uma mão. Era então juiz de direito da comarca o Dr. Felipe Nery da silva filho, que por ser inimigo do seu Paiva, viu-se por amigos destes, coagindo a retirasse do município.

    Nenhuma responsabilidade se apurou a respeito das últimas ocorrências, ficando canhotinho entregue aos ódios dos partidos, na respectiva de uma hecatombe.

    No dia 17 desse mesmo mês novas cenas de perturbação da ordem pública se verificavam. Funcionando o Júri o seu Paiva destacado o cidadão João de oliveira, pelo simples fato de ser este advogado de um criminoso seu defensor.    Desses acontecimentos teve ciência o governador do estado por telegrama expedido pelo Presidente do tribunal, o mesmo Dr. Nery. Mais uma vez foi este magistrado impelido a retirasse para Garanhuns.

    Em 25 de julho de 1901 novas eleições municipais se realizavam em todo o município, fazendo-se Prefeito o seu Henrique pereira de carvalho e subprefeito, Moises de Azevedo Leite, e conselheiros: João de Siqueira. Francisco C. Marque, Manoel Vitorino e outros.

Em 10 de outubro de 1902, foi a cidade de Canhotinho surpreendida, as 10 horas da manhã, com a morte de seu Francisco Inácio de Paiva, uns dos políticos de maior influência e de prestigio que já houve no interior do Estado. 

Homem talhado para ser caudilho, político de visão
admirável, maneiroso, porém enérgico, algumas vezes
déspota, o seu, Paiva conseguiu manter-se no poder por
muitos anos, donde jamais se afastou, não obstante
transições política operadas no Estado, extremamente partidário e muito pouco administra, amigo até do sacrifício e inimigo até o crime, foi ele sempre o caudilho desconhece dor da derrota no terreno das competições.

Com o seu falecimento um Período de lutas mais
impressionadoras se abriu na política interna do Município.

Escolhido para chefe o seu Henrique Pereira de
Carvalho, velho amigo do seu Paiva, alguns correligionários deste impugnaram a escolha recebendo está na pessoa do seu Manoel Jardim, Deputado Estadual e influência política no Município de Garanhuns, declarando-se a luta entre Henriquistas e jardirnista.

Já que estamos a reproduzir informações que nos foram, prestadas, seja-nos permitido, neste ponto do nosso histórico, transcrever o que se encontra no "Diário" intimo que o farmacêutico Henrique dos Santos, a quem fizemos alusão no princípio da nossa exposição.
elaborou em vida, "Diário" que nos foi gentilmente cedido para a confecção do presente livro.

E mais um preito ele homenagem que rendemos a saudosa memória desse ilustre cidadão, que morreu deixando-nos o melhor elemento de sua coadjuvação nesse manuscrito de que já nos ocupamos e que é inegavelmente uma relíquia nos dias de hoje. 

Eis algumas notas do valioso documento:

 

1903 – Quarta-feira, 1º de janeiro, 

 

 

Chegou um telegrama anunciando que Henrique de Carvalho chegaria no sábado com um Delegado oficial e 10 praças, houve festa em casa de João Mauricio na do Juiz de Direito em 

 

VISTA DE CANHOTINHO EM 1896 

 

VISTA DE CANHOTINHO EM 1908 

 

Regozijo pela vitória da fração Henriquistas contra
a jardinista.

Domingo, 4. - Faz calor. Foram demitidas
todas as autoridades que serviram com José Gila.

Segunda Feira, 5. - Jardim veio conferenciar
com a dissidência. Hospedou-se em casa de João
de Siqueira.

Terça Feira, 6. - Não houve missa. Reuniu-se
o Concelho Municipal afim de tratar de demissões
e nomeações. João de, Siqueira, Presidente do Conselho não compareceu e nem quis entregar o adesivo Municipal. Foram chamados dois suplentes,
alcançando Vitória Henrique de Carvalho, que
imediatamente comunicou todo o Decorrido ao
Governador. 

Quinta Feira, 8. - Henrique de Carvalho organizou, o Concelho Municipal elegendo um conselheiro para a vaga de Dinamerico, que se retirou para São Bento, sendo eleito Pedro Alexandre. A fração, jardinista com o Presidente João, de Siqueira organizou então o Concelho. 

Sexta Feira, 9. - Tendo o Prefeito com o Secretario trancado o livro da Intendência, ao meio
dia foi a Intendência assaltada pelos jardinista
sendo repelidos pelos policiais.

Domino, 11. - Henrique de Carvalho e o De-
legado foram ao Recife a chamado do Governa-
dor. 

Quarta-Feira, 14. - Muito calor. As 6 horas
da tarde espalhou-se a notícia de que Thomaz Lopes vinha atacar a Cidade e se apossar da Intendência, ficando toda a população sobre sobrestado.

Quinta Feira, 15. – Muito calor. Chegou no trem Thomaz Lopes de Palmeira trazendo 12 cangaceiros e o Subdelegado de Angelim com intuito, de afrontar as autoridades e fazer o Concelho eleger as mesas. Nada fizeram porque chegou um telegrama do Governador suspendendo até segunda ordem. O destacamento está de prontidão. 

Sábado, 24 - O trem chegou à meia noite e o
Jardim passou com as orelhas ardendo, pois nada
conseguiu. O governador, Júlio de Mello e Rosa
e Silva reconhecem como chefe de Canhotinho a
Henrique de Carvalho.

Domingo, 25. - Chegaram do Recife Henrique
de Carvalho, o Juiz de Direito e o Promotor Souza
Leão. Vieram satisfeitos, pois tudo alcançaram.

Quarta-Feira, 28. - Henrique fez a eleição de
Presidente do Concelho e de 13 mesários, foi eleito Presidente Xixi (Francisco Carlos, Magno) e
Vice, Pedro Pugliesi, O Presidente João de Siqueira não compareceu. 

Quinta-Feira, 29. - Chegaram Dr. Jardim e
Manoel jardim com 4 soldados disfarçados e 5
paisanos. Dizem que são cangaceiros. Estão na
casa de João de Siqueira, onde ás 11 horas houve
uma grande reunião para se tratar do Concelho E das sessões eleitorais tudo isto em afronta ao que Henrique fez. Depois da reunião telegrafaram ao Governador consultando-o se aceitava o que tinham feito tiveram como resposta um
não, e que só prevalecia o que Henrique tinha feito. Retornaram a Garanhuns.

Março - Terça Feira, 13. - Consta com certeza que Jardim vem tomar conta de Canhotinho. 

Sábado, 14. - Por telegrama se sabe que Jardim, na Segunda Feira vem tomar conta de Canhotinho e nomear autoridades. Dizem que há muita gente jurada de demissão

Domingo 15 - Amanheceu nublado e o tempo.
tende para chover. Manoel Jardim Chegou hoje,
veio tomar conta de Canhotinho e fazer nomeações, que vergonha!

Segunda Feira, 16. - Henrique de Carvalho e
o Dr.  Promotor Souza Leão foram ao Recife receber taboca.

Terça Feira, 17. - Estão chegando, de vários
lugares, adesões a Manoel Jardim. Que canalha.

Sábado, 21. – Calor. Outem chegou o Dr. Cardoso Ayres. Mostra-se alheio ao que se está passando. Que manhoso!

Domingo, 29. -Por aqui passou a música de Garanhuns que foi esperar Manoel Jardim, que definitivamente é o Chefe de Canhotinho, que governo corrupto!" 

Passou para Garanhuns Manoel Jardim e deixou uma carta ao Chefe de Polícia e um cartão para o Promotor. 

Os políticos jardinistas estão muito contentes.
Têm razão. Deus queira que atrás da calmaria não
venha a tempestade. 

Segunda Feira, 30. - Henrique de Carvalho,
Caetano Vidal, Dr. Henrique Pinto Ribeiro. Pedro
Pules formam ao recife deslindar essa meada Política
que cada vez mais se torna uma vergonha.

Terça Feira, 81. - Chegou o Alferes Delegado,
porém nada disse.

Abril. - Sábado, 4. – Chegou Henrique Definitivamente Jardim é o chefe.      

Terça Feira, 7. - Manoel Jardim veio conferenciar com os políticos. Henrique humilhou-se. 

Maio, - Domingo, 3. -As ruas estão enfeitadas de coqueiros e bandeiras.3 coretos estão armados para, receberem as bandas de música; tudo se está preparando para, a recepção do seu Jardim. Teve um convite pela comissão: Arnaldo, Getúlio e Zuza, porém não, compareceu; pedido desculpa. 

 Chegou, Manoel Jardim. Grande recepção. Houve, jantares e muitos discursos. Veio muita gente de São João, Angelim e Palmeira. Houve muitos foguetes e passeata. A Lagoa Seca achava-se, enfeitada de arcos de coqueiros.

 

Eis como terminou no ano de 1903 em Canhotinho,
a luta política travada entre os partidos que disputavam o poder.

A história desta terra tem sido, em todos os tempos, assim e assim há de ser enquanto não houver no País partidos organizados, a maneira como tínhamos no regime passado. 

Deixemos, porém o comentário e evoquemos os
acontecimentos. 

Em 14 de maio desse mesmo ano de 1903, Canhotinho até então vila, passou a ser cidade com a denominação de São Sebastião, em virtude da lei nº 607, sancionada pelo Governador Antônio Gonçalves Ferreira.

A 6 de Julho começou o calçamento da rua da Estação e do Pátio do Comercio constituindo esse melhoramento o maior benefício que já se fizera a esta terra até aquela data.

Em 20 de Junho de 1904, em virtude das disposições transitórias da Lei 11º 697, art. 70, passou Canhotinho a ser termo da Comarca de São Bento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

. Em 22 de Julho de 1904, tomou posse do. Cargo de
Juiz de Direito da Comarca de São Bento com jurisdição 

Em 22 de julho de 1904, tomou posse do cargo de Juiz de Direito da Comarca de São Bento com jurisdição em Canhotinho, o Dr. Francisco Xavier de Lima Borges, um dos bacharéis mais inteligentes e cultos da magistratura pernambucana. Os seus despachos, as suas
sentenças, as suas respostas jurídicas dadas ás consultas que eram feitas, cingiram-lhe e a fronte com a auréola de jurisconsulto. Por varies anos teve Canhotinho
a glória de conserva-lo como seu Juiz. 

Em novembro foram empossados novos dirigentes
do Município a saber Prefeito, seu Manoel Jardim. Subprefeito Manoel de Siqueira.

Canhotinho revestiu-se de festa por esse acontecimento. 

Embora muito guerreado, alguma cousa fez o seu
Jardim pelo bem-estar material desta terra. Seu nome
ficou ligado a vários melhoramentos que ainda perduram, atestando a operosidade do homem. Inteligente
que tragicamente morreu no Município de Garanhuns,
vítima da monstruosa hecatombe que ali se verificou em 1916. 

Deixemos passar os anos de 1905 e 1906. Nenhum
acontecimento notável nos consta ter havido durante o
seu período. 

Em 1907, a política mais uma vez perturbou a
paz do Município. Adversários do seu Manoel Jardim,
entre eles Dr. Pinto Ribeiro, Caetano Azevedo, Joaquim de Almeida e Caetano Vidal, coligaram-se para
derrubá-lo, aproximavam-se as eleições municipais e por isto puseram-se todos em campo em animada persistente cabala eleitoral. 

Naquele tempo, como ainda hoje, o prestígio dos
chefe, muito dependia da ação dos Delegados de Polícia, máxime quando estas autoridades eram oficiais
da nossa milícia. O valor eleitoral propriamente dito
foi sempre uma balela; jamais predominou diante da
manifestação da força, que o soldado só por si representou e representa. 

Numa luta entre dois partidos, infelizmente conhecia-se, como hoje se conhece, vitória pela parcialidade da polícia.

Não se conseguiu reformar tão bárbaro costume. A própria republica o alimenta, sem mais descrê, com
a responsabilidade - (salvas as execuções) de seus beneméritos administradores, que, na verdade, são os maiores deturpadores do regime. 

 

Entretanto, bem nos parece que se' podia, com inteireza, corrigir o erro, positivamente tão prejudicial. Não o querem, porém, os políticos extremados.

 

Dentro dos interesses partidários não se pode agasalhar o espírito da Justiça. Pensam todos assim e assim vae sendo governado um País que possuem, como alicerce de sua organização republicana, a mais bela e mais bem formada das Constituições. 

Voltando ao histórico, transcrevamos na integra,
para corroborar as nossas palavras, como o temos feito.
até agora, mais um pedaço do falado. "Diário" do Farmacêutico Henrique dos Santos.

 

Abril de 1907 - Sexta Freira 11. - Calor. Tempo nublado. Foram nomeados suplentes de Delegado pessoas da fração de Antônio Azevedo e Dr. Pinto  Jardim cahiu. 

 

 

Maio - Quinta Feita, 9. - Chegou a Comissão que foi ao Recife tratar da eleição municipal. Veio satisfeita e trouxe a nomeação de Delegado e suplente de Juiz Municipal. Houve, música e foguetes. Muita alegria de um lado e tristeza do outro.

 

 

A 10 de Julho deste mesmo ano foi realizada a eleição, empossando-se, em 15 de novembro, os novos dirigentes do Município, a saber: Prefeito, Antônio de Azevedo; Subprefeito, Joaquim Henrique de Almeida; Conselheiros: João Nepomuceno de Siqueira, Dr. Henrique Pinto Ribeiro, Caetano Vidal dos Santos, Jacyntho de Medeiros da Câmara Tamarindo, Claudino pereira Torres Galindo, Pedro Pacifico Pugliesi, Osorio Paes do Barros, Vespasiano José de Mello e Manoel Peixoto pinto.

 

Estava assim, por terra, a política dos Jardins, dizendo muita gente que a razão fora o processo instaurado contra eles e a antipatia que lhes votava o então
Governador do Estado por causa de vários crimes que
lhes eram imputados. 

“Sic transit glonia mundi”.

Passou a caber a chefia política, nesse passe, ao Dr. João Paes de Barros, que também passou a dirigir Garanhuns. Pelo "Diário" do velho Hel1rique comprehel1de-se
que, pouso duradoura foi essa direção do Dr. João
Paes. Desgostos aparecidos no seio da Dissidência
deram lugar, em breve tempo, a reclamações perante o
Governo, passando este a prestigiar a Azevedo. 

Eis as notas do "diário": 

 

Julho de 1908, - Quinta Feira, 16. - A fração política de Almeida chegou ao Recife muito fria por causa da resolução do Governador em dar toda forca a Azevedo como Prefeito. Foi destituído de Chefe o Dr. João Paes de Barros.

 

 

No fervor ele todas essas transmutações políticas,
sempre ocorridas entre músicas, foguetes e discursos,
passavam absolutamente despercebidas as datas nacionais. 

 

Leiamos o "Diário": 

 

Setembro de 1908. - Segunda Feira, 7. - O
dia de hoje tão grande para o Brasil passou aqui
despercebido; nem música, nem foguetes, nem luminárias. 

 

 

No dia 39 desse mesmo mês de setembro de 1908
aumentos do município Antônio de Azevedo, assumindo a Prefeitura, na qualidade de substituto legal o seu
Joaquim de Almeida, mal visto pelo Governador, muito pouco tempo governou esse cidadão. 

 

Uma nova eleição, portanto, se procedeu sendo eleito o prefeito Antônio Damini.

Nenhum melhoramento deveu canhotinho aos senhores que administraram durante esse tempo. Só tutas, intrigas e ódios se assinalaram no período de sua administração, muito principalmente no governo do Sr. Antônio Damini, que no conceito de todos foi tido como um cidadão falho de competência, títere, mas mãos dos políticos manhosos de espertalhões.

Segundo é correte o Sr. Domini terminou os seus dias do Asilo de Alienados.

Os anos de 1909 e 1910, não assinalaram fatos dignos de menção.

 

No decorrer do de 1911, porém, surgiram as salvações no Estado e consequentemente nos Municípios. Dantas Barreto, o General Ministro do Governo Hermes
da Fonseca era o ídolo do povo pernambucano, o seu
sahvado1; o salvador de Pernambuco. Por toda a parte 

 

Apareceram-lhe turiferários em cujas cabeças foram
quebrados pelo próprio Dantas, os seus turíbulos, que
só continhám rixas em vez de incenso. 

Canhotinho, como os demais departamentos do Estado, se agitou e se revolucionou. Joaquim de Almeida
foi o primeiro político a arvorar o pendão dantista a
sombra do qual se abrigaram logo muitos adversários da
política rosista. Choveram as adesões, incrementaram-se os ódios. Entraram em luta os partidos Dantista e Rosista, apoiando e trabalhándo pela vitória deste, o Dr. Lima Borges, Juiz de Direito, Cap. Caetano Vidal, e outros dedicados. 

Um sudário negro e merencório invadiu a alma dos políticos os logo se afogaram na vilania, no sangue e na lama, até serem arrastados as três hecatombes, que a história tristemente registrou.

No dia 3 de dezembro, - eis o começo – Cangaceiros de Joaquim de Almeida atacaram a residência do
Dr. Lima Borges, que se acháva ausente. Nesse ataque houve encontro de forças, resultando 2 mortes e 3 ferimentos. Conta-se que ao chegar aqui a força do exército, assaltos, prisões, tiros e até incêndios em propriedades de políticos adversários foram registrados

Assumindo o general Dantas Barreto o governador do Estado a 18 de dezembro, logo depois foi escolhido para dirigir a política do município o seguinte diretório; Padre Cabral, Seu Joaquim de almeida e Joaquim Vitalino, dando-se, nessa ocasião, demissões e nomeações varias.

Em 1912 a situação do município não foi absolutamente tranquilizadora. Sobre o regime das perseguições, o prefeito José Emygdio viu-se obrigado a renunciar ao cargo. No próprio seio do partido dantista o descontentamento e o desgostos. Por fim exaltaram-se os ânimos e o partido cindiu-se, ficando de um lado, Joaquim de Almeida e vários amigos e de outro, o Padre Cabral, Azevedo, Francisco da Motta, Joaquim Vitalino e João de Freitas...

Foi o período de maior intensidade política que o município atravessou.

Comissões e mais comissões. De ambas as facções seguiram continuamente até o recife, em busca do apoio do governo, qual era o indeciso e vacilante. Nada se resolvia definitivamente, dando isto margem a que todos alimentassem viva fé na vitória do pleito que se tinhá de realizar no município.

Apresentado por manifesto assignado pelos parédros; Padre Cabral, Rafael da Conti, João de Freitas, Joaquim Vitalino e Inácio de Azevedo, surgiu então a candidatura de Caetano Paes de Azevedo, a qual teve logo, por aposição, a seu Joaquim de almeida.

Animada e bem cabalada feriou-se, afinal, a 1º de marco a mais importante e renhida eleição a chápa coligadas. Contra essa vitória interpuseram os almeidistas recursos perante o governador do estado, não tendo sido, entretanto, o mesmo provido.

Reconhecidos em 31 de Marco, a 30 de maio foram empossados, com Prefeito: Caetano Paes de Azevedo; e com Conselheiros: Rafael da Conti, Bernardino Paes de Azevedo, João Miranda Pinto de outros.

Canhotinho festejou solenemente essa posse. Enfeitaram-se e iluminaram-se garridamente as ruas, tendo afluído grande número de pessoas vindas de Garanhuns,
Palmares, Angelim e até do Recife. 

A respeito consultemos o Diário do Farmacêutico Henrique

 

Maio 1922. - Sexta Feira, 31. --Aposse do Prefeito Caetano Paes de Azevedo. Vieram assistir à posse mais de 200 pessoas, dentre elas pessoas
de Palmeira, Garanhuns, S. João, Glycério, Equipa, Palmares, Catende e Recife. Foi um ato muito pomposo. A rua estava arborizada e embandeirada. A Intendência estava uma beleza. A posse foi ás três horas perante mais de 400 pessoas, entre elas 2 Prefeitos, toda as autoridades judicias, policiais e municipais. A banda de música 25 de março abrilhántou ato. Muitos foguetes e uma salva de 21 tiros na ocasião da posse.
A noite houve baile a que compareceu muita gente. Terminando ás 6 horas da manhã. 

 

Sábado, 1 de junho. - Houve ontem uma soirée até 2 horas da madrugada.     Tudo correu muito animado e sem alteração. Deus permita que o nosso Prefeito seja muito feliz no cargo que ocupa e que nesse pequeno espaço de tempo que vae governar Deus o ilumine para que faça algum melhoramento nesta terra.

No dia 12 de julho de 1913 apareceu, pela primeira vez, em Canhotinho, um jornal. Tinhá ele título "A Ordem"; como redator proprietário o Bachárel Miranda de Azevedo e como auxiliar Pedra Affonso. 

De grande formato, aparecia aos domingos. 

Os seus primeiros numeres foram hem feitos. Tem por depois, porém, tal jornal degenerou a ponto ele transformar-se em verdadeiro pasquim. Indigno de ser lido no lar de qualquer cidadão. Números houve cuja leitura só podia ser feita por homens. Conforme aviso dado ao público, anteriormente, pela própria redação.

Nas suas colunas só imoralidades. Infâmias e calúnias se publicavam, intranquilizado o espírito famílias, já atemorizadas. 

 

Conta-se do seu proprietário, o referido Bachárel
Miranda de Azevedo, que era ele um neuropata, dado
ás descomposturas soezes e obscenidades as mais criminosas.

 

O seu jornal durou algum tempo para morrer afinal deixando negra manchá na história da imprensa de
Canhotinho, que teve no seu primeiro órgão de publicidade uma reles pasquinada, pois outra causa não pôde chámar aquele papelucho sujo escoadouro de vãmente atrabiliária, que flagrantemente traiu a sagrada missão do jornalista. 

Em 11 de Novembro de 1913, realizaram-se no Município novas eleições para Prefeito e 8ub-Peefeito, sendo eleitos, respectivamente, Rapháel da Conti e Candido Alexandre da Silva.      

Nova passe de agitações e de desordens em Canhotinho. 

Logo no começo de sua administração teve Rapháel
Da Conti contra si quase a unanimidade do conselho Municipal, embora probo, segundo infirmativas de muitos
que com ele privaram, esse novo Prefeito, arrostando
com mil dificuldades no início do seu governo, veio depois cair nas barras do Tribunal, em processo funcional, graças à ação do seus ferrenhos inimigos. 

A sua irresponsabilidade, porém, foi decretada, continuando ele á frente dos destinos de Canhotinho, mas
sempre debaixo, de uma atmosfera hostil.

Não pode esse cidadão dotar o Município de um só melhoramento. Muito ofendido pelos seus adversários,
inda assim se diz Rapháel Da Conti que foi ele um
forte e sobretudo um Prefeito bem-intencionado, que nada fez, assediado. Pelas agitações do momento. 

Rapháel retirou-se- de Canhotinho sem os recursos
que adquirira a custo de sua operosidade. A sua desdita como administrador é o mais vivo exemplo de quanto
é ingrata a malfadada política, que depois de tirar um
cidadão dos seus labores, onde com o suor de seu rosto ganhá o alimento da vida, arrasta-o pelas ruas da amargura fazendo-o afinal, naufrago e ludibriado a mercê elas torrentes e dos ventos inclementes ela maledicência pública. 

Em 1914, ainda no governo do General Dantas Barreto, foi Canhotinho desanexado, como termo da Comarca de São Bento passando a pertencer, em virtude da Lei
Nº 1226 de 6 de junho á de Garanhuns.

Durante esse mesmo anuo deram-se rio Município diversos assassinatos sensacionais, entre eles o do Capitão Bernardo Camará, em Glycério, os de um inspetor
e de um Subdelegado em Calçado e o de um soldado em Lajedo. 

Na estação da Great westem também se verificou, em fins de dezembro, terrível cena de sangue matando-se friamente o popular Antônio Pereira Vianna que
águardava a chegada do trem de Garanhuns. O este último fato prenderam-se, de algum modo, questões políticas. 

Foi a época de maior atribulação para a família canhotinhense, que se viu sem garantias, só à mercê das
vinganças pessoais, a todo o momento efetivado. 

Continuando essa situação, em 1913 foi ela profundamente agravada pelos ódios políticos efervescente. 

Em 20 de Novembro, por exemplo, um bárbaro crime foi praticado, envolvendo-se nele, não só praças
da polícia estadual, como ainda, pessoas de destaque no Município, inclusive autoridades civis. 

Matara-se covarde e friamente um cidadão ilustre e
comerciante abastado, residente no povoado de Lajedo,
sendo igualmente morto, na mesma ocasião, o seu filho
de nome Deocleciano Pereira Torres Galindo. 

Chámava-se a vítima Claudino Pereira torres Galindo era coronel da Guarda Nacional e político de influência na terra, tendo sido algumas vezes, referendado
no desenvolvimento do presente historio. 

Não desejamos pormenorizar esse trágico e horrível a acontecimento, cuja reminiscência é um luto eterno
para a alma deste bom povo, muitas vezes infeliz na orientação dos seus administradores. A justiça dele se ocupou, punindo severamente os seus autores, ainda hoje
encarcerados e consequentemente segregados do convívio dos homens de bem.

Agravando esse monstruoso crime por circunstâncias políticas, que averbaram de suspeitos os magistrados 

 

 

 

 Da terra, viu-se o Governo do Estado na contingência de,
nos termos do Art. 122 da Constituição e por ato de 26 de dezembro do mesmo ano, designar uma comissão para apura-lo, recaindo a sua escolhá nos Drs. Armando de Albuquerque Pereira de Oliveira, Juiz de direito de São Bento e Roderick Villarim de Vasconcelos, promotor Público de Gravatá. Essa comissão chegou em canhotinho a 3 de janeiro de 1916 e no mesmo dia instaurava o inquérito policial, que a 14 de Fevereiro do mesmo ano, sérvio de base a denunciar oferecida pelo Dr. Vallarim contra o Capitão Felix de Cantalice Vila nova e Mello, até então Delegado de polícia do município; Miguel Callado Borba, João Jose dos santos sobral, Antônio Lopes da silva, vulgo quatro quinas, Antônio Martins da silva, por alcunhá torrão de Gogó, Antônio Alves Feitosa e Damásio pedrosa do nascimento. Recebida essa denúncia e formada a culpa contra todos os indicados, foram estes, a 26 do mesmo mês de fevereiro, pronunciados, tendo o processo seguido, em recuso necessário, para o superior tribunal de justiça onde permaneceu até ser confirmada a sentença do Juiz em comissão.

 

 

Para completar esta informação, digamos que em 31 de agosto de 1917, em audiência especial presidida pelo Dr. Luiz correia de oliveira, então juiz de direito da comarca. Foram três dos citados réus, julgados neste município, proferindo o mesmo Dr. Luiz correia, em 18 de setembro, sentença condenando o Antônio Lopes da silva e Antônio Martins da silva no grau máximo do Art. 294§ I do Cód. Penal absolvendo, porém, a Miguel Callado Borba, com isento de responsabilidade.

Esta decisão foi mantida pelo tribunal da Relação. 

Logo que tal crime se consumou, quase toda imprensa, dele circunstanciadamente se ocupou, produzindo o professor Jorge de Sousa, aqui domiciliado, a seu respeito, uma série de artigos, também o historiando seus pequenos detalhes

Em 1916 canhotinho não foi menos desditoso. Uma encambe de graves consequências ainda surpreendeu a sua população, roubando, desta vez, a vida de três conceituados cidadãos, moradores nesta cidade.

 

O facto ocorreu, no dia 26 de fevereiro, eram seguramente 18 horas e 30 minutos, já completamente noite. Um grupo de três homens, tendo á frente Olívio Torres Galindo, conhecido por Tetéo, assaltou a casa comercial
do seu Joaquim Henrique de Almeida assassinando-o e
também a Oswaldo de Almeida, seu irmão, afora ferimentos que foram produzidos na pessoa de Antônio Manoel, tabelião público, que veio a falecer no dia seguinte.

 

Canhotinho, até então cenário de crimes verdadeiramente sensacionais, jamais tinhá presenciado hecatombe logo que esta foi consumada, todo o comerciante fechou as suas portas, estabelecendo-se, pelas ruas, horrível confusão. O clamor das famílias em desespero, ecoava longe. Foi uma noite de pânico e de horror indescritíveis, contam-no todos os que testemunháram o assalto. 

 

Tombados por terra três chefes ele família, três viúvas gritavam alucinadamente no desespero da dor e vinte
e um órfãos pranteavam a ausência dos seus queridos pais. 

 

 

Mais um fato da maldita política, de seios fartos
e sedutores de homens incautos, desses que ainda se
deixam levar pelo seu riso mefistofélico, pelos seus requebros de Messalina, política maldita, mil vezes maldita, que a tudo prostitui lançando nas chámas crepitante do ódio, da vingança e do assassinato, crianças,
moços e velhos. Maldita sejas, Circe infamante. 

 

 

Essa última tragédia foi, todos sabem, consequência de vinganças pessoais. Assassinando o seu Capitu, toda a sua família julgou ao seu arbítrio, ser o maior responsável o seu Joaquim de almeida, político adversário. De nada lhe serviria a ação religiosa da justiça punindo severamente, naquele mesmo dia, os legítimos autores do assassinato. A vindicta operou-se cruel e bárbara
contra o mesmo. Almeida e mais cruel ainda ceifando a
vida de dois outros cidadãos. 

 

Em referência a esse acontecimento, ainda procedeu o Governador do Estado, então o Dr. Manoel Antônio Pereira Borba, com justiça, enviando para este Município um juiz em comissão o Dr. Olympio bonalda    . 

Cunhá Pedrosa, Juiz de Direito da Comarca de Barreiros, o qual aqui chegou em companhia do Dr. Abelardo
Moreira de. Oliveira Lima, Promotor do Cabo. Em 17 de
Marco do referido ano de 1016. Em 12 ele Abril ainda
mesmo ano, deu este Juiz Despacho final, no processo que instaurou a respeito, pronunciando, como autores dos aludidos assassinatos a Olívio Pereira Porres
e a Moysés Ignácio da Silva, conhecido por Moysés mãozinhá, nas penas do Art.294 §.1º do Cód. 

Em Júri que funcionou a 24 de Abri de 1919, sob
sobre a presidência do Dr. Luiz Correia de Oliveira, foram os primeiros dos réus, Olívio, julgado, sendo absolvido por unanimidade de votos. Serviu na sessão, que foi soleníssima, como seu advogado, o Dr. Eurico de Castro Cháves Deputado Estadual, e como Promotor Público, o Dr. Hermógenes Cavalcanti de Albuquerque.

 Mandado a júri pelo Tribunal da Relação, sob
fundamento de ter sido essa decisão contraria ás provas dos autos. Teve Olívio Pereira Torres Galindo, que se submeter a um segundo julgamento, que se realizou em sessão do Tribunal, de 21 de setembro de 1920, sob a presidência do Dr. João não Batista de Almeida, servindo como ainda com o promotor Dr. Hermógenes Cavalcanti de Albuquerque como advogado do acusando o Dr. Renato Falante da Câmara e Escrivão Francisco Roberto de Mattos.

 

Como na primeira vez, foi o réu unanimemente absolvido.

 

Presentemente achá-se o processo no cartório do Escrivão Leão de Oliveira Ledo, com decisão da Relação
mandando Olívio a um terceiro julgamento. 

No correr do ano de 1916 e após a série de angustias por que passou a população, viu-se canhotinho dotado de um grande melhoramento. Com a lei Nº 1316 de 10 de junho restaurou-se a sua comarca. Foi a senador Manoel Antônio pereira Borba, como governador que assim o beneficiou.

Em consequência desse ato, chegou a 22 do mesmo mês
nesta cidade o Juiz de Direito nomeado Dr. Luiz correia
de Oliveira, juntamente com o Promotor Dr. Hermógenes Cavalcanti de Albuquerque Lins. 

Além do juiz foi confiada aquele bachárel a mesão de chefe político o município. Daqui até muito além
Canhotinho atravessou uma fase de tranquilidade
reparadora. Todos os seus elementos políticos, calados de tanta luta, congregaram-se em torno do novo dirigente.
com exceção unia ao Maior Joaquim Vitalino de
Mello, sectário da política dantista. 

Nessa situação novos poderes se elegeram e se empossaram a 15 de novembro passando o Município, a ser governado pelo cidadão João Francisco da Motta, como Prefeito. Constituindo o Concelho Jacinto de Medeiros da Câmara Tamarindo, Manoel Tenório Cavalcanti Ferreira Leite. Tiburtino Vicente da Costa. Rafael Da Conti, João Mauricio da Roxa. Antônio Hilário da Silva. Candido Alexandre da Silva e Ignácio País de Azevedo. 

Foi demasiado curto o período governamental do seu João Francisco da Motta. Muito embora dotado de
ideias progressistas. Sempre acalentando no espirito aspirações avantajada para a terra em que viveu e onde
tanto amou, pouco conseguiu fazer, esse honrado administrador. Em proveito material ao Município, pois a morte traiçoeiramente o arrebatou em princípio do ano imediato a sua posse. 

Canhotinho não tem e nem podia ter esquecido a memória desse grande homem, só vencido pelo golpe
certeiro da morte. O que ele fez por ocasião da terrível epidemia que aqui irrompeu no começo do ano de
1917. Exclusivamente em benefício da população desprotegida da sorte, é mais que bastante para ser o seu nome eternamente lembrado e venerado pelos filhos desta terra.         

João Francisco da Motta, com o seu excesso de dedicação e amor causa publica foi para cada habitante
de Canhotinho, mas que um benemérito porque revelou-se o seu próprio salvador, num momento em que todos se sentiam à beira do tumulo, ameaçados pelo terrível mal. Que se desencadeou furiosamente no coração a cidade. Mais que um benfeitor, foi esse Prefeito um temerário. Os doestes milagrosamente salvos, quando as sepulturas se enchiam de vítimas arrebatadas sem piedade pela epidemia, que falem e digam da sua ação, já com simples cidadão, já com consciente administrador. Nos que traçamos a história de canhotinho. E nós fomos testemunhas visuais da abnegação e do altruísmo desse pranteado morto, sentindo-nos felizes, extremamente felizes, em recordar tudo o que ele fez de útil em prol da humanidade sofredora.

Neste pedaço da nossa história não mais nos limitamos a reproduzir o que nos dizem, mas afirmamos, de silencia própria, que João Francisco da Motta foi um herói, um abnegado um exemplo vivo da mais pura e sincera dedicação, na fase mais angustiosa por que passou o município de Canhotinho no começo desse ano de 1917. Destemido e leal protetor dos desanimados, com eles privando no leito da morte, sem temor ao contagio do terrível mal, que a todos ceifava em poucas horas, o saudoso prefeito, soube ser para os seus mais humildes jurisdicionados mais que um amigo porque foi um pai amoroso e desvelado.

O seu João Francisco da Motta, faleceu a 25 de março do referido ano de 1917 vítima da epidemia, que ele tão caridosamente enfrentou para socorrer os desvalidos. O seu corpo acha-se sepultado na Capela do Engenho crauatá, de sua propriedade. Com o seu falecimento deixou viúva e filhos, sendo aquela Dona Amélia dos Santos Motta, chefes da firma Motta e irmãos, Alfredo dos santos Motta, Henrique dos santos Motta, Alzira dos santos Motta e Cecilia dos Santos Motta.

Com homenagem ao prateado morto, estamos hoje nas páginas deste livro, o seu retrato, para que tenham sempre os filhos de canhotinho, sua memória a imagem de sua individualidade.

Por iniciativa do Dr. Luiz correia, ainda com vida o seu João Francisco Motta, foi organizada, em fins de 1916, uma campanha de ação para iluminação elétrica da cidade. Vitoriosa a ideia, pouco a pouco foi se tornando a mesma em realidade a te que em 1917 canhotinho resplandecia ao clarão da luz nova. Sob os auspícios do mesmo prefeito de 12 de janeiro desse mesmo ano

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Outro melhoramento se iniciou de grande vantagem para o município; nesse dia um engenheiro traçara o lugar da ponte sobre o rio canhoto, eterno melhoramento das plataformas dos dirigentes anteriores. Essa a obra só veio a ser concluída no governo futuro do Sr. Manoel Vidal dos santos, empossado a 26 de março na qualidade de substituto legal

 

 

Na administração deste cidadão canhotinho muito progrediu. Como já referimos, concluiu-se a obra da ponte e mais, iniciou-se a construção do poço municipal; construísse a cadeia pública, aumentou-se o calçamento das ruas, e sobre, a direção de um prático alemão fez-se uma enorme cacimba de cuja água faz uso a população pobre desta cidade.

Foi em meados desse ano assim promissor que faleceu o farmacêutico Henrique dos santos, aquém temos feito referencias citando fatos do “Diário” intimo que deixou e que foi incontestavelmente melhor cabedal para elaboração deste histórico.

Atravessado todo o perigo governamental do Sr. Manoel Vidal, realizou-se a 10 de julho de 1919 nova eleição municipal sendo respectivamente o cidadão abaixo apontados.

Prefeito:

Subprefeito:

Conselheiros:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Do mesmo anuo, foi por ele terminara a construção do
Paço Municipal, e também aumentado calçamento da Cidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Em dezembro, assumindo a administração do Estado, José Rufino Bezerra Cavalcanti, retirou-se desta
Comarca para servil' como Chefe de Polícia o Dr. Luiz
Correia de Oliveira, ficando, no juizado de direito, interinamente. O Dr. Baptista de Almeida, cargo que ocupou até 1922. 

Embora chefe da Segurança Pública o Dr. Luiz,
Correia continuou na direção política deste Município 

Durante os anos de 1920 e 1921 nenhum acontecimento digno de nota ocorreu. 

Em junho de 1922, voltou a exercer as funções de Juiz de Direito desta Comarca o Dr. Luiz Correia passando o cargo de Juiz Municipal a ser ocupado novamente pelo Dr. Baptista de Almeida.

A 6 de Julho empossou-se no cargo de Juiz de Direito, o Dr. José Vieira Rabello, em substituição ao Dr.
Luiz Correia de Oliveira, que passou a ser Juiz da Capital. 

Dois outros acontecimentos mais importantes ocorreram durante este ano. O primeiro foi uma Assembléia
política que se realizou no dia 7 ele agosto no edifício do Cinema Popular e na qual tratou ela escolha dos novos
dirigentes do Município para a eleição de 9 de setembro,
Assembléia essa promovida pelos dissidentes a política do
Dr. Luiz Correia. Segundo se resolvera nessa reunião
que foi solene e à qual compareceram cento e muitos
eleitores, a chapa a ser eleita nas ditas eleições ficou assim organizada Prefeito seu João Mauricio da Roxa, Subprefeito: Luiz dos Bantos Motta, conselheiros: Guilherme de Holanda Magalhães, João Miranda
Siqueira, Eugenio Tavares de Miranda, José Mathias
da Roxa, José Alexandre da Silva e outros.

Bem pareceu nessa época que novas lutas se iam
travar no Município em torno da política local. Enquanto a Dissidência assim procedia, depois de se tornarem improfícuas todas as negociações em prol de uma
Conciliação entre as facções, o Dr. Luiz Correia juntamente com os seus amigos fazia outros candidatos ao supremo cargo municipal. Nesse estado ele cousas aparelhavam-se as duas correntes para o pleito, que seria
na realidade renhido, si a 18 de agosto, no Recife, uma
forma de conciliação não fosse por todos adoptada, perante pessoas autorizadas do Partido dominante do Estado desse entendimento, que foi coletivo entre os
próceres das' correntes divergentes, ficou assente serem
retiradas as candidaturas de combate para se negociarem
com a audiência dos políticos mais influentes do
Município. Outras cuja forma de apresentação melhor
consultasse o espírito republicano da política nacional.
De tais negociações resultou a seguinte chapa: Prefeito: Ignácio Paes de Azevedo, Subprefeito: João Mauricio da Roxa, conselheiros: Guilherme de Holanda
Magalhães, José Matias da Roxa, Eugenio Tavares de
Miranda, José Alexandre da Silva, José Ferreira Leite,
Claudino Correia de Mello, Cicero da Matta Oliveira,
Luiz Rodrigues de Meio Cavalcanti e Joaquim Vitalino de Melo. 

A 9 de Setembro, após a celebração das pomposas
festas. Do Centenário da Independência, verificaram-se,
em todo o Município, as ditas eleições, saindo delas
eleita a chapa convencionada. 

O segundo acontecimento digno, de menção foi a
chegada nesta cidade 'do Revmo. Padre Moysés Ferreira,
Vindo da Diocese do Rio Grande do Norte. Homem superior, de aprimorado talento, de profunda erudição e
sobretudo orador fluente e imaginoso, Padre Moysés, em
aqui chegando logo dias depois mostrava ao povo de Canhotinho a-grandeza de suas aspirações e o patriotismo
de sua alma de brasileiro extremado. Foi assim que em
pouco - tempo: esse pastor incansável pôs em pratica
seu programa de benefícios a esta terra, já incentivando o ensino público com a criação de escolas noturnas para os infelizes da sorte, inclusive a do Comercio, para a classe caxeíral, já pregando dentro da ordem e do respeito. A doutrina de que é digno evangelizador. Como brasileiro e grande patriota foi o Revmo. Padre: Moises um dos elementos que mais concorreram para o brilhantismo das festas cívicas de 7 de setembro realizadas neste Município em homenagem a Pátria.

 

 

Discrição geográfica de canhotinho

 

 

 

 

POSIÇÃO - ASTRONOMICA

 

 

 

Fica o Município de Canhotinho a 8° 5” e 48" de Latitude S, e a 36° 6' e 20" de Longitude. Occ. pelo Mer. De Greenwich.

 

 

 

EXTENÇÃO TERRITORIAL

 

 

A extensão do Município é aproximadamente, de
84 quilômetros de Norte a Sul e de 42 de Leste a Oeste. 

 

 

LIMITES

 

 

 Confina ao Norte com o Município de São Bento ao sul
com o Estado de Alagoas a Leste com o Município de Quipapá e a Oeste com os de Garanhuns e Correntes.  

 

 

ASPECTO GERAL

 

 

O seu solo é arenoso a Zona do agreste, onde se acham
os distritos de Jupy e Lajedo; pedregoso em toda
compreendida pela caatinga; argiloso na zona. E bastante acidentado, possuindo montes, outeiros, vales, planícies, brejos ribeiros, etc....

 

   

CLIMA E SALUBRIDADE

 

O clima de Canhotinho é muito salubre é variável,
no inverno temperado e no verão bastante quente. Há
quem o afirme melhor do que o de Garanhuns, pois não
vae a Intensidade do-frio. No verão, ás vezes, o calor é
intenso, amenizado, porém, pela viração que sopra de
Leste ao Oeste. 

 

DIVISÃO

Judicialmente está o Município dividido em 7 distritos, assim distribuídos. 1º Cidade; 2º Glycério ou Paqueira; 3º Tipy; 4º Calçado; 5º Lajedo; 6 º Jupy, 7º Palmeira, eclesiasticamente tem duas freguesias a de Canhotinho propriamente dita e a de Palmeira, ambas sob a jurisdição da Diocese de Garanhuns. 

POPULAÇÃO

 

A sua população, segundo o último recenseamento
feito em 1920 é de 54.251 habitantes. 

 

OROGRAPHIA

 

As serras principais' do Município são: a: do Jupy ao norte; a da Paquevira a Leste; a da Palmeira ao Sul. Dividindo-o com o estado de Alagoas; a Verde ao Norte. E outras
menos importantes. 

 

HIDROGRAFIA

 

  O rio principal do município e o de canhotinho que corre de Norte a sul, cortando a cidade. Afora este à os riachos Inhumas que nasce para os lados de Palmeira e se derrama no rio canhoto; O Agulhão, para os lados de Glycério; o das Moças, o Água vermelha, o Timbó, todos afluentes da ria canhoto, o Cana Brava, no tipy e o Peri-Peri no Jupy.

 

Há no município fatos mananciais, sendo os principais os da “Junça” e da “Gitirana” de onde se servem os habitantes de cidade para sua bebida. Em Glicério a água potável e abundante e de excelente qualidade

Por iniciativa dos poderes públicos fez-se ultimamente na cidade, em benefício da pobreza um cacimbão com perfuração do solo. O este grande melhoramento deu o povo o nome de “Cacimba do alemão”, por ter sido um súbdito da Alemanha que dele se ocupou isto no período da grande Guerra europeia.

Em Jupy o povo se abastecida água do Peri-Peri; em calçado da do rio Cháta e de lajedo de caldeirões e poços artesianos.

TIPOGRAFIA

O Município de Canhotinho possuí em seu território, uma cidade (Canhotinho) três vilas (Glycério,
Lajedo, Palmeira) cinco povoados (Calçado, Jupy,
Tipy; Olho d’Água Pombas e Olho d 'Água de Dentro).

A cidade de Canhotinho tem várias ruas, sendo principais, as seguintes: Pátio do Comercio, Lagoa seca, Alto da Parasita, Conceição, Estação, Cadeia Velha,
Viola, Uruguaiana, Colégio, Catende, Paravana, Bumba, Engole Home, Palha, Campo do sol, não existindo
nenhuma praça nem jardim.

O núcleo principal acha-se em uma grande depressão de terra cujo solo é corno que um lastro de calhaus; daí a razão de se dizer que onde é hoje o meio, ela rua
do Comércio era antigamente o leito de um rio. A
maior parte elas ruas restantes acha-se nas bordas desta
enorme bacia.

Há na cidade cerca de 2.000 habitações e 2 templos, religiosos. Os edifícios principais são: a Egreja Católica, o Templo Evangélico, o Paço Municipal, o Colégio
Estadual ou Grupo Escolar, a Cadeia Pública, a Estação 

Da Great Western, a Casa de Saúde, o sobrado do Sr.
João Mauricio da Roxa, o de Alfredo de Freitas, o de
Motta & Irmãos, o Hotel Borba, a casa comercial de Jorge Barreto, a de Manoel Vidal dos Santos, a João Vidal, a de Fernando Barreto, a loja Paulista, as casas de residências de Luiz dos Santos Motta, de João Vidal
dos Santos, de Caetano Vidal, de Joaquim Vitalino, de
Cícero dá Motta.

VIAS DE COMUNICAÇÃO

 

O Município de Canhotinho tem comunicação com
a Capital do Estado e com as cidades de Garanhuns, Quipapá, Palmares, Gameleira, Escada e Cabo, pela estrada de ferro da Great Western, e com os vários povoados e as vilas de outros Municípios por meio de estradas de rodagens, sendo a principal a que vae da cidade ao Município de São Bento passando pelo distrito de Lajedo. 

 

REINOS DA NATUREZA

 

Reina minera - A respeito desse reino diz o Dr. J.M. da Silva Coutinho em sua obra Estudos definitivos da E. F. de Una á Boa Vista: "De Canhotinho a rampa do planalto de Garanhuns ainda se encontra o gneiss, porém já muito empobrecido pelo feldspato e mica ferruginosa. Daí vem a abundância de área no soIo vegetal, a mudança da vegetação e a falta d’águas correntes no verão. 

 

E o começo da zona agaste. " (Dicionário Horográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, pág. 153, vol. 1º).   

Encontram-se no território de Canhotinho a argila de várias cores, da qual lançam mão as olarias; diversas qualidades de área; pedras calcarias e fontes de água ferruginosa, Em Glycério, em plena rua, há na
superfície da terra grande quantidade de ferro, que, segundo opiniões abalizadas é de excelente qualidade. 

 

Reino vegetal -- O Município é rico em frutas,
tais como: abacaxi, laranja, banana, goiaba, tangerina,
caju, jaca, melancia, mamão, jabuticaba, figo, pitomba,
lima, limão e muitas outras. Em tubérculos, produzindo bastante o aipim (macaxeira), a mandioca, o cará, abacate doce, a batata do reino, a taioba, etc..... Em cereais, Como: feijão, milho, fava, café, etc.... Todo o seu terreno prestasse perfeitamente para todas as leguminosas.
em verduras, tais como: o maxixe, o quiabo, O coentro, a cebola, o tomate, a couve em todas as suas variedades,
a mostarda, o chuchu, a pimenta, o jerimum. 

 

Com a derrubada inclemente das matas, Canhotinho muito tem empobrecido nas suas madeiras de construções. Só um quinto, se muito, do seu terreno está
coberto de matas. Há capoeirões, capoeiras e muitas terras descobertas. Encontram-se, entretanto, em madeiras de construções: o pão d'arco, o amarelo, a sicupira, a aroeira, a baraúna outras. 

 

Em plantas medicinais dá o Município a ipecacuanhá, o
velame, o sassafrás, a gindiroba, a pindaíba, o
pinto, a cabeça de negro: a batata de purga, etc.... 

 

Reino animal - De mamíferos existem: o cavalo, o boi
a cabra, o carneiro, o veado, o porco, o tamanduá, a cutia, o tatu e muitos outros próprios da fauna brasileira.
De aves, encontram-se: além das domesticas grande
variedade de pássaros admiráveis pelo canto e pela viveza da cor de suas penas. Entre os reptes há: cascavel, jaracuçu a coral, a jararaca e suas espécies, a papa-ovo, a caninana, a salamandra, a cobra de veado e outras muitas cobras venenosas. Em peixes são abundantes em seus riachos, encontrando-se neles a traíra, o carito, o jundiá, etc.... 

VIAÇÃO

Estradas - O Município é cortado de estradas, em
sua maioria carroçáveis, que servem, como já dissemos, de comunicação aos distritos e aos municípios vizinhos. Correio – São 5 as agencias existentes no Município, a saber: a da Cidade, a cargo de D. Francisca de Mello;
a de Palmeira, a cargo do Sr. Ozorio Paes de Barros; a
Glycério, a cargo, de Dr. Clotilde Vianna, a de. Calçado a cargo de D. Maria Anunciada da Silva e a de
a cargo de D. Ignez Pacheco de Medeiros,
Telegrafo - A única estação que há é a da Great Western, prestando relevantes serviços à população.

 

 

 

 

 

INSTRUCÇÃO

 

 

 

 

 

As escolas públicas devem ser estudadas de perto
pelos políticos competentes, pois não obstante a reforma
da instrução, observa-se em Canhotinho, ainda o velho
método de ensino, sendo raras as escolas em que se não adapte o estudo cantante. Em todas ela é grande a
falta de objetos escolares, desde os moveis até os livros
didáticos. 

Em todos os distritos existem escolas municipais, sendo que nas de Lajedo e Glycério há, além destas, escolas estadões. 

É de 18 o número de escolas mantidas no Município 4 estaduais, 10 municipais, 3 paroquiais e 1 do comercio. Atinge a 900, na média, o número de alunos
que as frequentam. 

 

 

 

 

 

 

Descrição especial dos distritos

 

 

 

 

 

 

 

JUPY

 

A história de Jupy é quase lendária. A família
Mello, especialmente o Capitão Vespasiano José de Meldo, conta-a da seguinte maneira:

 Foi o seu fundador, há 300 e tantos anuas, Antônio Vieira de Mello, desterrado pelo rei de Portugal.
Chegado a Bahia, o então governador deportou-o para o
interior. Conduzia Antônio Vieira consigo uma espingarda. Uma vez expulso e embrenhando-se nas matas,
sem roteiro, muito andou, assaltado de mil perigos, até
que caiu em uma taba de índios, no local onde hoje se
acha a cidade, até bem pouco tempo chamada Imperatriz
e presentemente União, no Estado de Alagoas. Os índios o cercaram e entre si conversaram. Nesse ínterim
Antônio Vieira detonou a sua espingarda matando uma
ave. Diante desse acontecimento nunca visto pelos indígenas, surpreenderam-se estes, tornando-se Antônio Vieira não só um detentor de suas simpatias, mas um grande entre eles. Passaram-se os tempos e um belo dia o desterrado português convidou os seus companheiros a
fazerem uma aldeia junto a uma fonte de água permanente. Em face desse convite o chefe da tribo informou então que a melhor fonte que conhecia era a do olho d’água do Py e para lá rumaram todos. Logo que. Ali
chegaram construíram eles, os índios e Antônio Vieira,
mucambos para moradias, vivendo todos, daí por diante na mais intima camaradagem. Um dia, porém, entendeu Antônio Vieira de ir à Bahia e neste propósito
pediu ao chefe da tribo que lhe cedesse dois índios de
sua inteira confiança. Acedido, o seu pedido, ele
marchou para o destino desejado lá chegando são e salvo,
juntamente com os companheiros, Na Bahia então foram os forasteiros recebidos com admiração pelo Governador, a quem Antônio Vieira expôs tudo o que havia
feito, acabando por solicitar-lhe ferramentas e sementes
para cultivar a terra. Satisfeito nesse pedido logo regressou Antônio Vieira ao Olho d' Água do P y e ali chegando instruiu todos os índios seus camaradas no uso
das ferramentas e no cultivo da terra, Em seguida, informando-se onde encontraria gado, veio a saber do chefe da tribo, que sô o havia no Piau, para onde, de acordo com o mesmo chefe, enviou quatro índios com as
instruções necessárias para os apanhar. Um ano se
passou para afinal chegarem os quatro portadores
trazendo 8 cabeças de gado, sendo 6 fêmeas, completamente domesticadas. 

Conta-se mais desse mesmo Antônio Vieira que em
uma das suas idas à Bahia caído prisioneiro de uma
tribo e com ela lutando para salvar-se, fez ele uma
promessa a Nossa Senhora dizendo que se ela o livrasse
da morte ele traria a sua imagem para o Olho d'Água
ao Py e ergueria a sua fronte com uma coroa de ouro,
São e salvo cumpriu então Antônio Vieira a sua promessa conduzindo a imagem, que ainda hoje é festejada no
distrito do Jupy. Quanto á coroa, que é de ouro, maciço, há bem pouco um amante de cousas históricas, ofereceu por ela 2 contos de réis.     . 

Terminado o tempo de sua deportação voltou Antônio Vieira de Mello a Portugal, de onde. Trouxe para o
Brasil tempos depois, a sua família e o direito de posse
da terra que cultivara. 

Há bem pouco tempo o Tenente Eduardo José de
Mello, o varão centenário de quem falamos na parte histórica de Canhotinho, possuía os papéis onde estava traçada a sesmaria doada pelo rei de Portugal a Antônio Vieira de Mello. 

 

Eis em poucas palavras como se conta a origem de
Olho d'Água do Py, que as gerações sucessivas mudaram para o nome de Jupy. 

 

De Antônio Vieira de Mello é bisneto o mesmo
Tenente Eduardo e também o foi Francisco Ignácio de
Paiva e Mello, dirigente político do Jupy por muitos anos e avô de Francisco de Paiva Mello junho chefe de
Canhotinho a quem fizemos também referencias na aludida parte história.
Como lembrança do seu ancestral, D. Constança, de Paiva Netto conserva ainda hoje uma jarra Feita pelos índios de então e presenteada a Antônio Vieira de Mello.

 

 

 

O Distrito de Jupy fica a N. O. dá Cidade de Canhotinho e distante 54 quilômetros, divide-se com Garanhuns, São Bento e com os distritos de Lajedo e Calçado. 

 

Não nos foi possível saber em que ano se constituiu distrito.

Já pertenceu a Garanhuns o foi anexado Canhotinho quando este se fez Município autônomo.

 No último recenseamento atestou uma população de
6.441 habitantes: 

Contam-se no povoado 50 e tantas casas compreendendo 8 estabelecimentos comerciais. 

Possui uma Escola Pública Municipal.

Zona produtora de milho, feijão, fava, mandioca, especializando-se em fumo e abacaxi, que exporta em grande quantidade, O seu algodão não é de Boa qualidade.

Às sextas feiras realiza as suas feiras, que são regularmente concorridas. 

Jupy é também zona criadora. 

GLYCÉRIO

Situada a margem da Great Western, cuja estação serve de baldeação ao ramal de Garanhuns, esta Glycério a Leste da sede do Município, da qual está a 13 quilômetros.

Foram seus fundadores João pereira de Gouveia, Manoel e Antônio da Silva Romeu.

Foi criado o distrito policial em 1891 e judiciário quando se fez autônomo o município

Possui cerca de 500 casas afora os mucambos. Dentre os principais prédios destacasse: as residências do Dr. Embiruçu, Engenheiro da estrada, família Pedro Pugliesi, João prado, José Viana, Antônio Pugliesi, Luiza Siqueira; a fábrica de bebidas de João Miranda & cia. A estação da Great western, o templo católico, construído a pouco tempo.

Tem uma escola estadual e municipal. 

A vila de Glycério está situada em dois locais: na encosta de um outeiro, onde estão os melhores edifícios, com várias ruas, entre elas a do comercio, onde se realizam aos domingos as suas feiras, e na planície onde está situada o bairro da lama e construída a fábrica de bebidas.

Limita-se o distrito com o município de Quipapá com o estado e de alagoas e o distrito sede.

Entre as várias casas comerciais que possui Glycério, conta-se: as do Srs. João Pugliesi, José Pugliesi.

Glicério e afamado pela excelente água potável de suas fontes permanentes.

E a zona fertilíssima produzindo todos os cereais e legumes, com especialidade a cana de açúcar. Dentre os seus limites existem vários engenhos.

Ponto inicial do ramal de Garanhuns, tem o distrito de Glycério a sua vida bastante alegre pelo constante movimento de trens que ali cruzam diariamente.

O seu clima e agradabilíssimo.

Socialmente falando teve até algum tempo a sua vida estacionaria; ultimamente, porém um vento progressista soprou em seus âmbitos e hoje vae ele marchando admiravelmente, já possuindo bem organizada sociedade de futebol, melhoramento de vulto.

Ilustram o histórico deste distrito algumas fotografias de sua povoação e outras das festas que realizou em comemoração do Centenário da independência. 

TIPY

 

A situação deste distrito e ao Sul da cidade de canhotinho e com 16 quilômetros de distância.

 

Começou Tipy a ser povoada há 35 anos passados sendo os seus primeiros moradores José Quintino e Moysés leite.

Elevado a distrito judiciário por lei municipal:
ficou mais ou menos assim constituído: dividindo com o distrito da sede começa no quilometro 7 depois  da cidade, segue pela estrada que vae ao sítio Junça com direção a estrada de ferro até o Engenho belo prado e ponte conceição, desce pela estrada que vai par a Lage de canhoto, estado de alagoas, até o engenho Divisão e daí margeia o rio denominado de Areias em direção ao sul até encontra a divisão do estado de alagoas e daí até o Engenho inhumas, segue ainda pela estrada real que vai para palmeira até o engenho água clara e daí segue para o poente até encontrar a divisão do  distrito de Palmeira no lugar denominado de Gameleira, seguindo pela mesma estrada até encontrar a divisão de Sigismundo Gonçalves, município de Garanhuns, daí segue ao norte até o lugar chamado Vaca Velha encontrando-se com o Distrito da sede segue pela .estrada e Sigismundo Gonçalves até encontrar o ponto de partida.

Sua população é de 5.418 habitantes, segundo o último recenseamento.     . 

Tipy tem o seu terreno bastante acidentado, porém de uma fertilidade prodigiosa, sendo um dos distritos
mais ricos do Município.
Dentro do seu terreno estão 30 propriedades de valor, afora inúmeras pequeninas e 25 enguenho0s que fabricam rapadura com exceção de 3m que fazem açúcar.

E o distrito mais criador de canhotinho e contem nos seus vastos cercados para mais de 3.000 cabeças de gado.

A sua água é de excelente qualidade.

O povoado está encravado em cima de um outeiro e conta cerca de 70 casas.

Os seus melhores edifícios são: a casa comercial dos senhores Manoel Tenório Cavalcante e Cícero da Matta oliveira, o chalé dos herdeiros de Ulysses da Matta a casa de residência do Sr. Cicero da Matta e outras. Tem em construção uma bonita capela.

Tipy tem como propriedades mais importantes, os seguintes:

 

LAJEDO

 

 

O distrito de lajedo está situado ao Norte e Oeste da cidade de canhotinho e a distância de 48 quilômetros.

 

Limita-se com o município de São bento, com o 1º distrito e ainda com calçado e Jupy.

Começou a ser povoado no ano de 1852 mais ou menos, sendo hoje sua sede o povoado o mesmo nome, o qual fica encravado em um plano. Possuindo cerca de 200 casas, entre elas alguns salientes pelo seu feitio e construção. Possui três ruas assim Chamadas: do comercio, barão Cazuza e travessa Canhotinho.

Agreste, aqui sertão, é lajedo boa zona criadora. Produz e exporta em grande escala: milho, feijão, fava, algodão e mandioca.

O seu terreno é próprio a todos os tubérculos.

Vitima sempre de rixas políticas, tem tido lajedo o seu desenvolvimento entravado; todavia, possui casas de negócio com intenso movimento.

As suas feiras, que são bastantes concorridas, são feitas ás quantas feiras.

Tem a vila duas Escolas públicas, sendo um estadual e outra municipal.

Possui uma igreja que esta eclesiasticamente jurídica a freguesia de S. bento.

 A sua população e de 6.311 habitantes segundo o último recenciamento 

Tem uma Agencia do correio.

 

CALÇADO

 

 

Situado ao norte e oeste da cidade de canhotinho e destante36 quilômetros, limita-se calçado com 1º distrito e com os de lajedo, Jupy e município de Garanhuns.

 

 Data o começo de sua povoação é de 40 anos atrás e hoje com sede o povoado do mesmo nome, que se acha edificada em uma semi-encosta, declive de um outeiro. Tem cerca de 90 casas, destacando-se as residências dos Srs. Candido Alexandre da silva e José Alexandre da silva, a comercial de Candido Alexandre & cia, e a fábrica de beneficiar algodão pertencente a estes mesmos senhores.

São suas feiras realizadas aos domingos, com boa freguesia.

E distrito policial deste 1891

 

 

 

de fazer farinha e 22 engenhos, que são: Rochedo de

 

 

 

Propriedade do Sr. João de Souza Moraes; Cana Brava, de Maria da Roxa e filhos; Espinheiro, de Alfredo

Elias; Penates, de João Paes de Mello; Campina, de

Manoel Rosa; Cavaco, de Raymundo Marques Teixeira;

Lagoa, de Manoel Amaro; Palha, de Caetano Serafim;

Crautasinho, de João Porto; Cafundó, de Joaquim, Rodrigues; Jussarinhá, de Mathias Pereira dos Santos;

Inhumas de Cima, de Francisco Catão; Mondes, de André Alves; Macuca, de José Alves da Silva; Riachão,

de João Caetano; Riachão, de Camillo Alves dos Santos;

Serra Grande, de José Felix da Silva; Água Clara, de

Manoel Bernardo da Silva; Riachão, de Manoel Bernardo Pequeno; Serra, de António Ferreira Lopes e Inhumas, de Manoel Machado.

Zona grandemente criadora, há nas suas inúmeras

Soltas perto de 2.000 cabeças de gado. São principais

Criadores os Srs. Peixoto Pinto, José Mathias da Roxa, António Peixoto Pinto, José Peixoto Pinto, Pedro

Paulo de Barros, José Nunes de Oliveira, Leônidas Dantas, João Ignácio, Ignácio Marinho. Possidônio Francisco Brasil, António Hilário da Silva, Vicente Rodrigues, Joaquim Bezerra Catão, Francisco Viana dos Passos, António Joaquim, Sebastião de Moraes, João Paes de Mello, José Rodrigues. Raymundo de Moraes e Isaias Ferreira.

O Distrito do Palmeira rende ao Município, por

Ano, uma média de 10:000$000.

Tem duas Escolas Públicas Municipais e uma Agencia de Correio.

 

 

 

 

Canhotinho na data do Centenário

 

 

 

 

 

 

ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

 

 

 

 

 

AGENTES DO CORREIO:

 

 

 

 

 

 

ESCRIVÃES DESTRITAES

 

 

 

Escrivão da Cidade — António Dacio de Mello.

de Glycério — José Manoel de Queiroz.

de Tipy — Cícero da Matta Oliveira.

de Palmeira — Manoel Barreto da Silva Nem.

de. Lajedo — Aureliano Correia.

de Jupy — Belmiro Vianna.

de Calçado — Raymundo Atanásio de Moraes

AUTORIDADES POLICIAES:

 

Delegado de Polícia — Capitão Nicolau Pinto Teixeira.

 

SUBDELEGADOS:

Subdelegado da cidade — Antônio Renaux Duarte.

de Glycério — Antônio monteiro da silva.

de Tipy — Cicero da Motta oliveira.

de Palmeira — Antônio Hilário da silva.

de. Lajedo — José Alexandre da silva.

de Jupy — Joaquim lúcio da silva.

de Calçado — Francisco Ribeiro da silva.

De olho d’água de dentro — Aureliano coreia de Araújo.

 

INSPETORES D EQUARTEIRÃO:

 

Inspetor de olho d’água de Dentro — José da cruz.

De Crauatá — José Alves porto.

Des espinheiro — José Luiz da silva.

De couquinho — Lourenço Rodrigues de oliveira

Esporão de galo — Avelino Cipriano bispo

De taquari — Bráulio Gomes pessoa.

De bom jardim — Pedro marques da silva.

Burarema — Joaquim Mendes.

 

 

Inspetor de Engenho Velho — Manoel José da Silva.

 

 

de Palmeira— António Alves da Silva.

de Calçado — António José da Silva.

de Jurubeba — Francisco Andrade da Silva.

de Várzea — João Ferreira das Neves.

de Inhumas — Tranquilino Alves de França.

de Jenipapo — Manoel Celestino "da Silva.

de Mendes — Joaquim Coelho da Silva.

de Peri-Peri — Francisco Severo das Neves.

de Camaratuba — Luiz Ferreira da Motta.

de Várzea do Gado — Jacob Themotheo de Andrade.

de Cabaceira — José Cadete da Silva.

 De Melancia — Antônio Ferreira dós Santos.

de Lajedo — Vicente Ferreira da Silva.

dr Olho d'Água Novo — Francisco António dos Santos.

de Baixa Funda — Maurício Pedro de Salles.

de Mine — Manoel António do Nascimento.

de Luz — Manoel Florentino Bizarria.

de Cantinho — José Caetano dos Santos.

de Mucuim — Marcos Moreira da Silva.

de Cotovelo — Januário Gomes Ferraz.

de Bell o Prado — Rogério Nogueira de Carvalho .

de Retiro — Pedro Gomes da Silva.

de Bananeira — Manoel Lopes da Silva.

de Gruta Nova — António Leopoldino Monteiro.

de Glycério — Vicente Lopes.

de Palmeirinha — João Pedro, da Silva.

de Muquem — Januário Cordeiro dos Santos.

de Olho d’água de Catinga — José Inácio da Costa.

de Sobrado — Pedro José da Silva.

de Mendes —- Manoel Felix dos Santos.

de Tipy — Francisco Mathias da Silva.

de Divisão — Manoel Lourenço da Costa.

da Cidade — João Boi.

de Rio Cháta — Joaquim Soares de Oliveira.

 

Inspetor de precinhás -- José Ferreira dos Santos.

 

de Matinhá -- Joaquim Bião da Costa.

de Costa — Joaquim Pedro de Amorim.

AUTORIDADES ECLESIASTICAS:

 

Igreja Católica — Padre Moysés Ferreira.

 

Igreja Evangélica — Rev. Cícero Siqueira.

ESCOLA DO COMÉRCIO:

 

Professores de português — Júlio Clodoaldo de Oliveira e Aygulpho Jorge de Souza.

 

Professor de Geografia — Dr. João Baptista de Almeida.

Professor de Francês — Dr. Geroneio Borba de Carvalho.

Professor de Aritmética — Júlio Flodoaldo de Oliveira.

ESCOLAS PAROQUIAIS:

 

Escola do Sexo Masculino — José Correia de Oliveira.

 

Feminino — Arcelina Gomes da Silva e Cecília Alves de Mello.

Colégio Evangélico — Cicero Siqueira e Cecília Rodrigues.

ESCOLAS ESTADUAES:

 

Escolas da Cidade — D. Maria Augusta e D . Rosa Caneca.

 

Escola de Glycério — D. Esmeraldina Pinheiro.

De Lajedo — D. Carmen Cruz.

 

 

ESCOLAS MUNICIPAES:

 

 

 

Escola da Cidade — Aygulpho Jorge tio Souza. D. Esther, da Roxa e D. Maria Porto.

 

de Glycério — D. Rosa do Rego, Sarros.

de Tipy — Joanna de Moura Lins.

 

Escola de

 

de

de

de

de

de

 

Lajedo — D. Maria Leite.

 

Calçado — D. Maria Cândida Xavier.

Jupy — D. Maria Ramos.

Palmeira — D. Fausta Barreto.

Olho d'água de Dentro — D. Josephá Nunes.

Olho d'água das Pombas — D. Maria da Silva Leal.

de Santa Luziu — D. Josephá Correia de Oliveira .

de Chápéu de Pulhá — D. Francisca Barbosa.

 

Mesas Eleitorais

 

1º Sessão -- CIDADE

Presidente

Dr. José Vieira Rabello

Mesários

Henrique Pereira de Carvalho

José Ferreira Leite

Secretario

Júlio Flodoaldo de Oliveira

2º Sessão — CIDADE

Presidente

Francisco Gueiros Filho

Mesários

Inácio Paes de Azevedo

Joaquim Vitalino de Mello

Secretario

João Leão de Oliveira Ledo

 

3º Sessão — CIDADE.

 

Presidente

Luz Ribeiro Guerra

Mesários

Manoel Marcai Gonçalves

Tiburtino Vicente da Costa

Secretario

António Dacio de Mello

 

4º Sessão — GLYCERIO

 

Presidente

Claudino Correia de Mello.

Mesários

Cassiano Marquês da Silva

Petrônio Augusto de Emery

Secretario

José Manoel de Queiroz

 

5º Sessão — TIPY

 

Presidente

Manoel Tenório Cavalcanti

Mesários

Herculano Leão de Oliveira

José Honorato da Silva

Secretario

Cícero da Matta Oliveira

 

6º Sessão — LAGEDO

 

Presidente

José Pereira de Carvalho

Mesários

José Nonato de Oliveira

Raimundo José Dornelas

Secretario

Aureliano Correia

 

7º Sessão — CALÇADO

 

Presidente

José Alexandre da Silva

Mesários

Pedro Bento de Oliveira

José Gonçalves de Mello

 Secretario

Raymundo Atanásio de Moraes

8ª Sessão — JTJPY

Presidente

Joaquim Lúcio da Silva

Mesários

José Alexandre de Moraes

Avelino Machádo Dias

Secretario

Belmiro Ferreira Vianna

9º Sessão — PALMEIRA

Presidente

António Hilário da Silva

Mesários

Sátiro de Salles Bispo

Ozorio Paes de Barros

Secretario

Manoel Barreto da Silva Nem

 

JUNTA DE ALISTAMENTO MILITAR.

 

 

Samuel Correia de Menezes Lyra

 

Claudino Correia de Mello

António Dacio de Mello

 

JUNTA ESCOLAR

 

Samuel Correia de Menezes Lyra

Dr. Gerencio Borba

Manoel Vidal dos Santos

 

MÉDICO

 

Dr. Florêncio Gomes

 

FARMACÊUTICO.

 

José de Souza Monteiro

DENTISTA

Sólon Vidal dos Santos

BIBLIOTECAS

Altino de Azevedo

PANTÓGRAFO

Francisco Cordeiro de Mello.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEGUNDA PARTE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CANHOTINHO

 

 

 

Histórico das festas cívicas do dia

 

 

7 de setembro

 

I Parte—5 horas da manhã: Alvorada pela banda musical—Centenário, uma salva de 21 tiros, e passeata das crianças das escolas, distribuição do jornal—O Centenário em Canhotinho.

 

II Parte—Religiosa— Igreja Católica —Comunhão geral dos fieis pela Pátria; Missa campal solene, em frente a Matriz; Sermão pelo vigário Pe. Moysés Ferreira sobre o thema—O senso cristão no Brasil, após um século de Independência; Te-déum.

Egreja Evangélica—Culto ao ar livre em frente ao Templo Evangélico; Preces de ações de graças pelo glorioso evento; Cantos de hinos sob a direção de Bilharinho Alves de Mello e d. Zuila Vidal; Sermão civico-religioso pelo reverendo. Cícero Siqueira, pastor da Egreja.

III Parte—Desportiva— (No Alto da Parasita) —9 a 11 horas—Exercícios esportivos tais como: Cabo de guerra, corrida de três pernas, de saco, com obstáculos, com ovos, com agulhas, etc.; brigas de ganso, de cego; cambalhotas, concurso, quebra do mealheiro, etc., etc. promovidos pelos temas: VERDE E ENCARNADO, nos intervalos ouvir-se-ão poesias recitadas pelos seguintes torcedores: Azeneth, Beatriz, António Ribeiro, Laura, Esther Buarque, José Alves, Julieta, T. Vidal, Noé. Cherubina, Carmelita, João Amaro, Josué, Oziel, Eufrásia, etc. e os que mais quiserem tomar parte.

11 1/2 horas—Almoço, em barracas adrede preparadas, oferecido pelos Reforçadores Cristãos aos presentes.

IV Parte—Literária—Sessão magna no Paço Municipal, com uma

Conferencia pelo dr. Geroncio Borba.

V Parte—De 13 a 16 horas—Continuação dos divertimentos esportivos. Às 16 horas grande passeata popular, às 18 horas—Repouso.

VI Parte—Teatral—20 a 22 horas. - Discurso pelo dr. João Baptista; A morte da Agnia—poesia, por Urbano Vitalino; Árcade

Noé—por 10 crianças; Bailado das Nações —por Thereza Vidal Clementina de Souza, Eunice Vidal, Alice Leitão, Maria Emília, Laura Correia; Rachel Vitalino, Damaris Lins, Noemi de Mello, Esmera Vidal, Guiomar Correia, Guiomar Ângelo, Hosana da Silva, Eufrásia Lins, Maria de Lourdes, Maria Lins, Estela Alcântara. Julieta Leitão, Esther de Barros, Julia Teixeira, Lygia da Costa; Ao Brasil—por Efrem Vitalino; Ao 7 de Setembro—por Tadeu Vitalino; A filha de Jephté—por Guiomar Correia, Anizia Vidal e Eunice Vida!; Apoteose ao 7 de setembro por Maria Emília, Esther Buarque, Maria Mergulhão. Claudomira Costa, Anizia Vidal, Esmera Vidal. Quitéria de Oliveira, Marina Leite; Oração á Bandeira—canto acompanhádo por d. Leopoldina Correia Lima, sr. Belarmino Alves de Mello e d. Zuila Vidal; Amo Bom—por Esther de Barros; Apoteose a Independência representando gentil senhorita, a Pátria, e 21 crianças os Estados; Discurso-pela senhorita Cecília Motta. Palavra a disposição.

NOTA—A música dos hinos nacionais dos principais países, na parte O Bailado das Nações, bem assim, os cantos pátrios na Parte Apoteose ao 7 de setembro, serão executados no piano por d. Leopoldina Correia Lima, que terá como auxiliares d. Zuila Vidal e Belarmino Alves de Mello.

 

 

SEGUNDA PARTE

 

 

Histórico das festas cívicas de 7 de setembro

A Alvorada

Madrugada divina de primavera, risonha e feliz como tudo o que é dos anjos! Madrugada de suavidade evangélica, de aroma estonteante? Embriagador! Madrugada que só o poeta pôde dizer, em versos inspirados, de sua inefável beleza, que n tudo impressiona e seduz! Madrugada alvissareira! Madrugada da Liberdade! Salve, Madrugada!

 

Quatro horas. Ainda dormem os pássaros no aconchego tépido dos ninhos, mas a Aurora, no leito, já se espreguiça envolta nas roupagens transparentes que a envolvera, para reaparecer no horizonte e cobrir a terra com o lençol de sua luz acariciadora. A natureza, esta vigila silente, na expectativa deleitável do grande Dia nacional em que a Pátria, engalanada e festiva, a de receber dos lábios amorosos de seus filhos, o osculo sacrossanto do Amor e da Veneração.

 

Quatro horas. A Alvorada anuncia-se ao som patético dos hinos nacionais vibrados pelo sopro hármonioso dos instrumentos e entoados pelos lábios dos que vagaram toda a noite na anciã de ver e contemplar o deslumbramento das festas em homenagem a Pátria glorificada.

Quatro horas. O ribombar dos vinte e um tiros da salva comemorativa sagra a majestade do Evento emancipador, cujo centenário se integra através dos tempos que passaram e se extinguiram, deixando, indelével, na história. O sulco luminoso do progresso.

Quatro horas. O estrugir das girandolas, rasgando os espaços infinitos desperta os astros concitando-os a virem render à Nação livre, altiva e heroica, as honras dos seus fulgores celestiais.

Quatro horas. Morre o silencio da noite para dar vida ao glorioso Dia da Partia, sofregamente esperado com vibrações de entusiasmo incontido, infrene, endoidecedor. E a alvorada do Centenário, de cem anos de Liberdade, do heroísmo e prosperidade que nos acorda, finalmente, para uma vida nova de conquistas de conquistas no mundo de realidades futuras.

Salve, 7 de setembro! 

Salve, Terra de Santa Cruz!

Salve, Brasil!

 

Foi assim que despertou a Cidade de S. Sebastião do Canhotinho, entre "o riso ~da" própria natureza e os hinos da Pátria em êxtase de entusiasmo, no dia em que a Nação Brasileira, orgulhosa e feliz, comemorou o primeiro centenário de sua Independência política. Foi assim que despertou a terra de S. Sebastião do seu marasmo de mais de meio século, na manhã suave e límpida de 7 de setembro de 1922, precursora de um dia fecundo e majestoso.

 

Cem anos eram decorridos após o grito de “Independência ou Morte" que libertara toda uma raça do jugo português.

Um centenário. Uma existência; mas uma existência de abundantes conquistas, de agigantados progressos, de tradições que jamais sé apagarão através da infinidade dos tempos.

 

Em 1822 na tarde desse mesmo dia, fizera-se a Pátria livre quebrando, dignamente, as cadeias que a prendiam ás cortes da antiga Lusitânia.

 

Foi um acontecimento sensacional. Maior, mais glorioso não havíamos conquistado ainda nas lutas homéricas em prol da nossa emancipação.

Pedro I tornara-se brasileiro injetará nas vem o sangue rubro dos mártires, que primeiro sonharam com a Independência e por ela morreram corajosamente no cadafalso, e com esse sangue, em causa comum com os oprimidos, implantou no Continente descoberto por Cabral, um sovo regímen promissor de mais amplas e eficazes garantias, de melhores e mate confortadoras esperanças — o regímen da Liberdade, da Justiça e do Direito.

Anulara-se, portanto, todo o poder de D. João VI sobre os destinos da Pátria vitoriosa, e no concerto das nações livres, passou a ser ouvida e contemplada a terra gloriosa do Cruzeiro, fadada para as grandes conquistas do futuro.

Nenhum estado, município, vila ou povoado, pode esquecer este pedaço de nossa história; ele se destaca dentre os demais, pela sua importância moral e política não desconhecida por quem vive no regaço excelso da Pátria, perscrutando o seu desenvolvimento.

O que foi a Nação Brasileira durante esse período de cem anos de liberdade, adquirido nos prélios formidáveis da Razão contra o despotismo secular das antigas cortes, é cousa que se não pode descrever em um ou dois capítulos de um livro. A história ali está cheia de feitos enobrecedores para uma raça nova, despertando nas almas dos povos vizinhos o sentimento da admiração.

Não fora o estoicismo dos compatriotas já baixados ao túmulo; não fosse a obsessão dos esforçados propagandistas das ideias libertadoras; não fosse ainda o desamor à vida dos sonhadores de um futuro de regeneração política, naturalmente que dentro do território brasileiro. Ainda existiriam, a esta hora, a humilhação e a fraqueza dos primitivos colonos:

 

 

Totós

 

 

Sentados. Da esquerda para a direita: Alzira Motta, Maria Arlinda, Maria da Rochá, Miria Motta, Salustia A. de Mello, Cecília Motta e Maria C. de Oliveira.

(No segundo plano) Celina de Andrade, Major Peixoto Pinto, Drs. Geroncio Borba e Vieira Rabello, Padre Moysés Ferreira (Presidente,) Dr. Baptista de Almeida, Lniz Motta e Maria Cavalcanti. (De pé) Euclydes Motta, João Leão de Oliveira e Júlio de Oliveira.

Foto

(Sentadas) Zuila Vida, Filomena Vidal, Ernestina Vidal, Leopoldina Corrêa, Cecília Rodrigues, Ignez Vitalino, Thereza Falcão, Amélia Leite. (De pé) Israel Vidal, Cícero da Matta, Manoel Vidaí, Solon Vidal, Cícero Siqueira, Urbano Vitalino, Belarmino de Mello e José Ferreira Leite.

 

 

Não seriam os estrangeiros que nos libertariam, encaminhando-nos para o progresso nacional. Continente vastíssimo, guardando em seu seio riquezas invejáveis e colossais, o Brasil, só por si se constituiu objeto de cubica no espirito aventureiro das nações adiantadas. 

 

 

Terra que dá homens da estirpe de José Bonifácio e Gonçalves Ledo, no passada, e de Rio Branco e Ruy Barbosa no presente, não se deixaria, nunca, dominar por um poder estranho, todo de interesses pecaminosos e absurdos.

O Brasil, mesmo sob o domínio de Portugal, considerou-se sempre digno para o engrandecimento; jamais preconizou a politiza de coerção influenciada por adventícios açambarcadores.

E um país de tradições avantajadas, por isto mesmo. 

Hoje dá ele o exemplo completo da sua grandeza incomensurável abrindo suas portas ao mundo civilizado, para que este, extasiado e ébrio de admiração, contemple as maravilhas do seu progresso, honrosamente alcançado após uma emancipação que, não obstante custar-lhe o sacrifício de inúmeros patriotas, fê-lo o maior entre os maiores do planeta, que habitamos.

Na sua Independência, proclamada no Ipiranga, está gravado, em caracteres inapagáveis, todo o seu valor, todo o seu heroísmo.

Canhotinho. Saudou alegremente, delirantemente, na

Madrugada de 7 de setembro, a majestade épica desse feito libertador, considerando-o o mais digno de todos quantos nos têm enaltecido numa existência de quatro séculos. Saudou-o com elevação de patriotismo, levando aos céus as preces reverentes e agradecidas de seus filhos, feitas de joelho, a sombra do auriverde pendão nacional, no altar bem-dito da Pátria.

 

A passeata e a comunhão aos fiéis pela Pátria

 

Anunciara-se em prospectos profusamente distribuídos, que o amanhecer do grande dia da Independência seria festejado por uma salva de vinte e um tiros e hinos patrióticos executados pela "Banda do Centenário", e que ás 6 horas se moveria grande passeata, formada pelos alunos das escolas Paroquiais e demais existentes na cidade.

Já descrevemos como foi que a cidade glorificou a alvorada de 7 de setembro. Apenas resta-nos acrescentar que, na ocasião de entoar-se o hino de Independência e após os vinte e um tiros, foi ouvida, com agradável surpresa, a palavra do cidadão Vicente Pires da Roxa, auxiliar do comércio.

De pé na calçada da Matriz, este cidadão num gesto de patriotismo' mui próprio dos pernambucanos e com Toda a efusão de seu entusiasmo, recitou a poesia "Liberdade" do poeta Joviniano Monteiro, alusiva ao momento, saudando, com ela. A alvorada da Independência nacional.

Ouviram essa poesia muitas pessoas, que estacionavam pelos arredores do Templo, aguardando o clarear do dia e o começo das festas comemorativas do centenário.

Muito cedo notava-se-pela rua do Comércio Caprichosamente ornamentada, desusado movimento. Grupos e mais grupos de crianças todas trajando vestes brancas com fitas verde-amarelo a tiracolo e gorros também brancos com a inscrição "E. Paroquial", num frémito de alegria infantil, caminhavam apressados em direção a Matriz, cantando hinos nacionais e vivando á Pátria.

Eram os alunos da "Escola Paroquial", dessa mesma escola, que o Rev. Padre Moysés Ferreira, num mês de estadia nesta terra, conseguiu instalar com o seu acendrado amor pela instrução e devotamento extremado a caridade publica, e para cuja manutenção não tem, o piedoso e abnegado sacerdote poupado esforços, nem sacrifícios.

 

 

 

Formando como que um batalhão de voluntários,

 

 

 

Os que ornamentaram a cidade

Foto 

DE PÉ Américo Mala, correspondente do O Imparcial de Garanhuns, em Canhotinho; SENTADO A ESQUERDA— José Alves do Nascimento A DIREITA—José Moura.

Eles, os humildes filhinhos da Pátria querida, regozijavam-se, em comunhão com os festejos do dia, compreendendo-os bem, sentindo-os bem numa demonstração admirável de patriotismo precoce.

Deixemos de parte como sendo filosoficamente naturais e aceitáveis, Centro da ordem do possível, todas as demais solenidades. Que se fizeram brilhantemente realizar nesta cidade na daí da Independência; nenhuma delias empolgou mais, sensibilizou mais, prendeu mais a admiração de uma população em festa do que Essa de um cortejo infantil, desfilado em ordem pelas ruas apinhadas de povo. E foi justamente essa infantilidade que mais graça deu, que mais realce ofereceu, ás nossas manifestações de amor e carinho á Pátria, homenageada, pois que, por meio delias chegamos a dizer, bem alto, que já de hoje, temos o empenho de preparar e educar os homens do futuro.

Essas crianças que aí estão e que tomaram parte direta nas festas cívicas de Canhotinho são, de facto, os alicerces de um futuro, que não alcançaremos, na verdade, mas que a Pátria terá diante de si na trajetória infinita de sua existência. 

Não lograremos descrever, com precisão, a sumptuosidade que revestiu a passeata matinal; apenas afirmamos que ela excedeu á expectativa de todos quantos trabalharam pela objetivação dos festejos em regozijo a data emancipadora. Trezentas e doze crianças de ambos os sexos formaram no cortejo, levando desfraldadas, ao som dos hinos entusiásticos da Nação gloriosa, as bandeiras da Pátria e da Religião, entrelaçadas e conduzidas, a primeira pela criança Armando Marcai Gonçalves, e a última, pela interessante e graciosa Maria Emília Correia Lima.

Belo. Muito belo foi o desfilar dessa passeata impressionadora, que o esforço gigante de um homem fortemente trabalhador, o Revmo. Padre Moysés Ferreira, organizou com a coadjuvação de quem também se interessara pelos festejos comemorativos.

Toda a cidade locupletou-se com o deslumbramento desse ato um dos mais imponentes que já foram presenciados no Município.

Até sete horas foi um marchar incessante da criançada jubilosa, digna dos nossos beijos e abraços e também dos beijos e abraços da Pátria agradecida.

Dirigindo o cortejo, viam-se as catequistas: Alzira dos Santos Motta, Francisca Duca, Maria Benvinda, Maria Correia de Oliveira, Amélia dos Santos Motta, Maria Roxa, Julia Santos e Cecilia Alves de Mello, secundadas pelo Padre Moysés Ferreira, professor Aygulpho Jorge de Souza e Vicente Pires da Roxa.

A passeata percorreu toda a rua do Comércio, parte

Da Lagoa Seca, rua da Estação e Alto da Parasita, regressando então a Matriz.

Nessa ocasião o espetáculo revelou-se edificante. Formaram todas as crianças em frente à Egreja, entoando o hino do catecismo, um primor de harmonia inspiração musical, e logo depois para se dispersarem, o hino nacional, que foi ovacionado por uma estrondosa salva de palmas e vivas a Nação Brasileira e á republica, hasteando-se, ato continuo, na fachada da Matriz, as bandeiras da Religião e da Pátria.

Dissolveu-se, afinal, a passeata para ter lugar, internamente, na Matriz, a comunhão dos fieis pela Pátria, Entre homens, senhoras e crianças, ato que foi testemunhado por uma multidão de católicos.

Terminada esta comunhão oferecida a quatrocentas pessoas foram servidos ás crianças, que tomaram parte no cortejo, café e bolinhos em a nave lateral do Templo.

 

Distribuição do jornal

 

"O Centenário em Canhotinho"

 

Para a execução completa da primeira parte do programa, restava a distribuição do jornal "O Centenário em Canhotinho".

 

Não é este Município um meio bastante intelectual, entretanto todos os que nele moram e acompanharam as festas comemorativas do centenário), aguardaram, com ansiedade, o aparecimento desse jornal, que, diga-se a verdade, constituiu a nota chie dos festejos do dia.

Deve-se ao cidadão Cícero -de Siqueira a sua iniciativa.

O "O Centenário em Canhotinho", foi caprichosamente impresso nas oficinas do "Norte Evangélico" de Garanhuns, e saiu à luz da publicidade composto em papel acetinado e trazendo óptima e instrutiva colaboração.

 

Liberdade

 

 

Poesia recitada pelo cidadão Vicente 

 

Pires da Rochá, por ocasião da alvorada.

 

Ave! Augusta Divindade,

 

Primogénita do céu;

Salve, salve Liberdade,

Eva na graça sem véu,

Rainhá sem diadema,

Heroína de um poema

Escrito por céus e mar!

— Tens no mundo um capitólio,

Em cada cabeça um sólio

Em cada peito um altar.

 

Livre é toda a natureza;

 

E livre o mar quando muge,

E livre a onça que ruge,

E salta de encontro à presa;

No fogo é livre a centelhá

Na colmeia é livre a abelhá

Fabricando, os doces méis

E o vento que se desdobra,

E o contorcer-se da cobra,

Agitando os cascavéis.

 

A juriti quando arrulhá

 

No galho da pitombeira,

Do tropeiro á tosca chula

Por detrás da cachoeira,

Da ventania o sibilo,

O zumbir do humilde grilo

A cair da claridade

O grito agudo da ema.

Junto à altiva Borborema

São ecos da Liberdade.

 

A Missa Campal

 

Sentiu-se bem a sumptuosidade desse ato na religiosidade que o presidiu e no ardor patriótico com que se fizeram entrelaçar, num amplexo de harmonia inquebrantável, as almas da Religião e da Pátria, separadas hoje pelo regímen da Republica, mas unidas sempre pelo coração afetuoso dos que comungam com a fé e os princípios doutrinados pelas leis impecáveis do cristianismo.

Não há e nunca houve erro em se amar a Pátria amando a Deus.

Si a Carta Política de 24 de fevereiro desconheceu e eliminou a autoridade da Egreja para fazer triunfar, dentro do território nacional a liberdade de culto, jamais anulou a preponderância dessa mesma Egreja no âmbito da consciência popular.

Essa consciência amando e respeitando a Omnipotência Divina, sabe, ao seu arbítrio e à revelia das disposições constitucionais, unir e identificar as duas cousas: Egreja e Pátria.

Não há em nosso espirito, com esta apreciação, partidarismo religioso. Basta dizer que somos dois a escrever estas linhas e que em matéria de crença religiosa nós achámos em terrenos opostos, abraçando, cada um, credo diferente.

Duas religiões nesta terra glorificada pelo civismo de seus filhos, se fizeram representar nas homenagens tributadas ao grande feito de 7 de setembro: a Católica e a Evangélica. De ambas falaremos, nesta parte, com a mesma linguagem, sempre que se fizer necessário sem desvirtuarmos o critério da exposição e da crítica que nos propusemos elaborar em referência a tudo o que assistimos na data memorável do centenário festejado.

Retrocedamos! Portanto, ao objeto principal deste histórico, à missa campal que se realizou ás 9 horas, solenemente, em lindo altar preparado à frente da Matriz desta cidade. Celebrou-a o Padre, Moysés Ferreira, vigário da Freguesia, em ação de graças pela comemoração do grandioso acontecimento libertador. 

Uma orquestra dirigida pelo professor António Ferraz, fez o acompanhamento, executando, a "Banda do Centenário", em coreto armado confronte á Egreja e artisticamente ornamentado, peças escolhidas do seu repertório, toda apropriada a imponência do ato.

As nove horas e vinte minutos, seguramente, após o Evangelho, assomou o púlpito adrede colocado ao lado esquerdo do altar e visível a multidão, o Padre Moysés Ferreira levando transfigurada no semblante a grandeza do seu espirito evangelizador em comunhão com o sentimento patriótico que lhe inundava a alma.

Imponente no porte e logo sugestionando a assistência, que se estendia em massa compacta por todo o pátio da matriz, deu o incansável e ardoroso pregador começo ao seu sermão, certo do triunfo que ia conquistar com sua eloquência e a sua palavra vigorosa e arrebatadora.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência foi o tema brilhantemente desenvolvido pelo orador fluente, que a Igreja Católica de Canhotinho hoje se orgulha de ter a frente dos seus destinos.

Falou o Padre Moysés cerca de vinte minutos. O público não precisava de mais. Dominado pela sensação que lhe despertara a palavra primorosa do orador ilustre, quedou-se estático, por muito tempo, para irromper, afinal, em delirantes aplausos a queima o soubera maravilhar.

A missa prosseguiu debaixo de religioso silêncio por

 

 

Aspecto da Missa Campal

 

 

 

*

 

*

 

Bandeira da Religião Católica ostentada na Passeata Matinal

 

 

 

Parte dos fiéis e ao terminar fenderam os ares prolongadas girandolas, tocando, nessa ocasião, a "Banda do Centenário" o hino mavioso da Independência.

 

 

Damos a seguir o belíssimo sermão a que nos referimos, o qual nos foi cuidadosamente reconstruído para integral composição desta parte histórica.

 

O senso cristão no Brasil após um Século de Independência

 

 

Sermão cívico pronunciado na Missa

 

Campal pelo Rm. Padre Moysés Ferreira.

 

"Independência ou morte" palavras de Pedro I. (Do

 

Evangelho da Pátria na festa da, Independência).

 

Povo Pernambucano! Conta-se de Goethe que, docemente sorrindo, diante da morte, no leito da dor, exclamava: — Luz e mais luz! — Nós ouvimos neste solene momento a voz da Pátria que, vendo expirar o seu primeiro século de Independência! Diz, como o mavioso vate alemão — luz e mais luz! Luz para o sol poente ou, o século que finda, para que saiba bem morrer, e sintamos por ele o eterno emblema de separação — a saudade; de luz enfaixemos os primeiros vagidos do sol que nasce, ou os primeiros momentos do segundo século livre e que sirva de pirilampo na noite embrionária de um começo de século que almejamos de paz e prosperidade. Luz e mais luz e muita luz, desejo eu, deste púlpito, sob esse dossel de safiras e por sobre esse manto verde, cor da giesta, para mim que, por justos motivos, me sinto apreensivo ao explicar aos meus concidadãos o Evangelho da Pátria na festa da liberdade —Independência ou Morte. Pátria! Pátria minha mui amada. Dai-me a seiva com que dotaste os vossos heróis! Pernambuco acenai-me com a eloquência de vossos filhos!

 

 

A GLORIA DO CLERO BRASILEIRO

 

 

Com Colombo e com Cabral aportara a América e ao Brasil o símbolo bem-dito da nossa redenção — a Cruz — que fora plantada, como poste, para significar que já fora descoberto o Continente americano e dividir a época da vida puramente indígena, da época em que homens civilizados habitaram o novo mundo.

 

Pernambucanos. A história de nossa terra e da nossa gente é igualmente a história de nossa sã religião, pois ela navegou em "mares nunca antes navegados" com os caçadores de mundos e cooperou diretamente na formação de nossa civilização nacional, desde a colonização até os nossos dias. Vejamos. Na história de Colombo, arrojado e intrépido navegador, conta-se que, ele sonhando com mundos imaginários ao ocidente das índias, oferecera sua coragem e sonhos de intrepidez, primeiramente a Itália sua Pátria, em seguida a Portugal, a França e Inglaterra que igualmente rejeitaram e o classificaram, de louco; é somente 8 anos mais tarde quando, quase fenecidas as flores, da esperança passara a

Espanha, pedindo auxilio e conforto na selado pobre convento, recebeu do humilde frade o que lhe negaram os cabeças coroadas a coragem para bater à porta do Rei, donde saiu coberto de louros do direito de descobrir o Novo Continente. Mas. Que quereis?! Si a ciência é filha congénita da religião! Colombos noster est. Colombo nos pertence! Nos 3 navios Santa Maria, Pinta e Nina partidas a 3 de agosto de 1492 do porto de Paios, estava extinta a esperança da tripulação, a mesma que brilhara sempre sorridente no espirito de Colombo quando, a 12 de outubro do dito ano a marujada bradava: terra, terra! Era uma Ilha a que os naturais chamavam de Guanahánie e o genovês descobridor chamou de São Salvador e era descoberto o Continente americano.

 

A história de Cabral começa pela narração da pomposa solenidade religiosa a 8 de março de 1500. Na Egreja de Belém, defronte da Esquadra, onde pontificou e pregou D. Diogo de Ortiz, bispo de Ceuta que benzeu o chapéu de Cabral, presente do Papa de então, e 

 

 

 

 

 

 

Padre Moysés Ferreira vigário da freguesia de Canhotinho e Presidente da comissão central dos festejos. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

em seguida recebeu o Estandarte da cruz e passou ás mãos do Rei, que entregou a Cabral, no meio das salvas da artilharia, parecendo que deveria dizer-lhe o que o mavioso bardo disse a Colombo: 

 

 

 

 

 

...disse um dia Jehovah

 

Vai Cabral abre a cortina

Da minha eterna oficina

E traz o Brasil de lá...

 

E quando a 21 de abril, hoje 3 de maio pela reforma do calendário sentiam os navegadores pássaros que esvoaçavam; descobriram um Monte a que deram o nome de Monte Paschoal; e a 26 foi armado o Pavilhão, onde celebrou Frei Henrique de Coimbra, o santo sacrifício da, Missa e a 1º de Maio foi feito da madeira virgem das matas brasílias, um grande cruzeiro e elevado em um monte, na terra de Santa Cruz.

 

 

Pernambucanos, Cabral nos pertence e o Brasil é a terra do Cruzeiro. Logo o Continente deve à religião a sua influência na descoberta.

 

 

Abrindo a história da nossa civilização. As primeiras páginas pertencem à ação da Egreja católica. Na ordem cronológica foram os Franciscanos os que primeiramente evangelizaram o nosso País. Logo depois vem a ação benfazeja e abnegada dos Jesuítas — esses intrépidos filhos de Santo Ignácio que mais se esforçaram pela civilização dos nossos selvícolas.

 

 Foram esses Anchieta e Nobrega os bandeirantes da civilização nacional. Tiveram sua choça ao pé da Taba dos índios onde o leito era de cipó fabricado pelos índios, a mesa de singelas taboas e as portas das casas de palha ou capim. Fabricaram tinta de leite de arvores e carvão para a instrução do selvícola e servia de pena um tosco pedaço de pau com uma ponta, igualmente fabricado pelos Jesuítas. Uns tiveram o solo por sepultura, outros caminhavam 20.dias em seguida sem. alimentos água além do orvalho das folhas da floresta, todos civilizando o Brasil.

Pernambucanos. De então a essa parte nasceu e

Floresce, sob a bandeira da Cruz, a família brasileira.

 

Agora vede: O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Administração do País, esse recenseamento de 1920, contagem de um povo, onde de 30.000.000 de brasileiros, que somos, não há 5 % de acatólicos. O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Diplomacia, Rio Branco pleiteando, junto ao Vaticano, o barrete cardinalício para dar ao Brasil o primeiro purpurado do continente sul-americano.

 

O senso cristão no Brasil após um século de independência é, nas Embaixadas, o Monsenhor Querubim.

Enviado extraordinário da Santa Sé, com as credenciais do Santo Padre Pio XI acompanhando uma benção apostólica para a Nação brasileira, no dia maior da festa nacional.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Política, o caso do Divórcio, projeto tantas vezes por terra, quantas foi apresentado no parlamento brasileiro.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência, na Pátria, é esse número de Igrejas desde a Grande Catedral de São Paulo, que tem capacidade para 20.000 fieis até a Igrejinha do cimo do monte e a Ermida das praias do oceano que servem de farol diário aos navegantes.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Família, essa festa nova da Entronização do Sagrado Coração de Jesus, pois a razão a demonstra e a fé a reclama. Sim é justo que na sala de honra do aluno veja-se o retrato do Mestre, do soldado o do General, do filho o do seu Pai e do cristão o do seu Deus.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é na ciência, Dr. Miguel Couto fazendo, o ano passado, em plena capital do País, a sua primeira comunhão.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Poesia, Fagundes Varela compondo versos cheios de amor e veneração á Maria, como estes:

 

No tosco albergue de seus maiores

 

Onde só reina paz e alegria

Entre os filhinhos, o bom colono

Repete as vozes: Ave Maria!

O senso cristão no Brasil após um século de Independência, é, na Piedade, o coração da mãe brasileira feito de afeto por seus filhos, traduzidos no ensino da doutrina cristã.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, na Caridade a Irmã Paula, esfaima privilegiada, que arrecada anualmente basta soma em benefício dos seus pobres lá do Rio de Janeiro.

O senso cristão no Brasil após una século de Independência é, no Ministério, este número superior a 2.000 Sacerdotes que oferecem diariamente aos céus a hóstia

Santa pela felicidade da Pátria.

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, no alto clero, este número de Bispos, que Hoje conta a Egreja no Brasil (70 contra 9 que eram na época de sua emancipação política).

O senso cristão no Brasil após um século de Independência é, finalmente, em Pernambuco está procissão Eucaristia de 1919, calculada em 60.000 fiéis acompanhando-a e que arrebatou do seu Arcebispo presidente está empasse de fé: — "Pernambuco é a terra da Eucaristia".

 

Pernambucanos. Religião e Pátria são ideais que se unificam e que, muitas vezes, prevalece a ideia da Pátria; porque se a pátria do corpo é esta pais onde pontifica a voz agourenta do Mocho, o ranger lúgubre do Cipreste, onde os rios são formados de lagrimais, desembocam, no lago da dor, que se comunica com o oceano da desolação, onde os festins são oferecidos aos vermes, que devoram igualmente o crâneo do coroado e do último vassalo, a pátria d'alma é este céu cheio de luz e enleios onde ela teve sua origem e para onde retornará no comboio d'além túmulo.

 

Pernambucanos. Só há um sinônimo para o amor da Pátria: é o amor de Mãe. Quando quiserdes fazê-la grande, como é o vosso dever, olhe o exemplo daquele General francês, que no calor da batalha da guerra de 14 a 18 sentindo a morte se aproximar, chamou um dos seus destemidos soldados e disse: "Devo morrer pela França. Quando meu corpo tombar, ao assalto traiçoeiro da bala inimiga, abri imediatamente meu peito, retirai dele o coração, levai-o ao primeiro território francês mais próximo e ali plantai-o para que sobre ele nasça um punhado de bravos”. Dê facto. Horas depois o canhão do inimigo deitava por terra o grande General. O invicto soldado apressa-se, abre o peito, retira ainda quente o coração do seu General, corre em direção da Pátria de São Luiz e, ao atravessar um rio, naufraga o seu batel, ele pega nos dentes o coração do General, nada, e quase exânime pisa o solo pátrio; cava uma cova e ali planta o Coração do seu general; momentos depois grita louco de entusiasmo: Viva a França; o ache morto sobre a sepultura dum coração patriota. 

Agora ouvi os rasgos generosos de um amor Materno.

Um jovem, óptimo filho até os 18 anos, fora assaltado pelas inclinações e mãos companheiros ás dissoluções.

Preso nos braços de uma infeliz por quem cegara, ouvira da mesma esta sentença: só te adoro se me trouxeres na mão a cabeça de tua mãe.

Ele louco, corre, entra precipitado no lar, donde havia se afastado há meses, corta o colo de sua mãe e sabe correndo com a cabeça pegada pelos lindos cabelos quando escorrega e cai. Pasmai pernambucanos; dos lábios maternos, saíram estas palavras: Magoaste-te meu filho!!

Pernambucanos. A Pátria inteira confia o seu futuro a nós. Amemos esta Pátria como amamos nossas mães. Se me fosse dado hoje gozar o que pretendia, eu escolheria dois sumos prazeres. Primeiro ver o longo manto branco da Paz cobrir toda a Pátria Brasileira. Segundo, olhar desta tribuna todos os pernambucanos de joelho saudarem à Virgem Maria. 

E tu, oh Mãe! Abre compassiva o teu regaço e coloca sob o teu manto azul cor do firmamento da terra do Cruzeiro, esses 30.000.000 de Brasileiros, que te saúdam entusiasticamente no dia que ufano comemoram seu primeiro Centenário de País Independente.

 

 

Egreja Evangélica

 

 

 

Conforme recomendação da Assembléia Geral da Egreja Presbiteriana no Brasil e da Comissão Brasileira de Cooperação, a Egreja Evangélica desta Cidade celebrou, ás 8 horas do dia 7 de setembro, um culto ao ar livre, constando dos atos abaixo descritos. 

 

Sob uma arvore em frente da Egreja, divisava-se o Púlpito modestamente ornamentado, ladeado pelo órgão, e cantores.

De entre os presbíteros Francisco Gueiros e Manoel Vidal, ergueu-se o Revmo. Cícero Siqueira e anunciou a antífona 223 dos Salmos e Hinos, a qual preludiada pela organista D. Zuila Vidal e pelo Maestro Bilharinho Alves de Mello, em breve dominou todo o auditório, calculado em 450 pessoas e se espraiou na vastidão do espaço. Terminado o canto do hino, o pastor convidou a todos para, em oração, se dirigirem a Deus.

A oração obedeceu aos seguintes tópicos:

 

Graças a Deus

 

 

1º — Pelos característicos étnicos do povo brasileiro, mediante os quais o brasil veio a ocupar posição honrosa, com povo pacifico.

 

2º — Pelo amor à liberdade e espirito independente que animáramos instauradores de nossa nacionalidade.

3º — Pela conduta e justiça com que o nosso país, pela política de amizade, fixou as suas fronteiras.

4º — Pelos princípios liberais consagrados nas leis do brasil – a liberdade de pensamento e de cultos, abolição de escravatura, proclamação da república, o arbitramento e proibição de guerras agressivas, a separação da igreja do estado e legislação social.

5º — Pela fecundidade do solo, amenidade do clima, beleza da terra que Deus nos deu.

 

Intercessão

 

 

1º — Pelos que estão em autoridade como ministros de Deus, para o nosso bem.

 

2º — Pelo povo afim de que seja livre do analfabetismo, das doenças que se desenvolveram a sombra da superstição e da ignorância dos males sociais oriundos da natureza pecaminosa, da licença e da anarquia.

3º — Pelo espirito altruísta, afim de que, com o processo da pátria se estabeleçam relações justas e amistosas entre o capital e o trabalho, entre os que colaboram com a mentalidade e com a força do braço para o engrandecimento da pátria; pela concórdia e fraternidade entre as classes sociais.

4º — Pela unidade nacional, desenvolvimento de uma elevada consciência publica, formação de um povo moralmente homogêneo, afim de eu sejamos livres dos ódios de raça e que todos os que habitam o brasil, como nacionais ou imigrantes, amem-se uns aos outros e a Deus como pai comum.

5º — para que predomine, na vida nacional, o padrão mais elevado dos valores morais.

Para que Jesus seja de fato reconhecido como único redentor e mediador entre Deus e os homens, e o seu domínio se estenda sobre o indivíduo, sobre a família, e em todo o conjunto sócia e por todos o território nacional.

Abrindo as Escrituras o rev. Cícero Siquera leu os vs. 1-8 do Cap. 6 do livro de Êxodo.

 

Continuou o Senhor a falar a Moysés, dizendo-lhe;

 

Eu sou o Senhor, que apareceu a Abraão, a Isaac, e a

Jacó como o Deus todo poderoso; mas eu não lhes declarei o meu nome Adonai. Eu fiz concerto com eles de lhes dar a terra de Canaã, terra da sua peregrinação, em que viveram estrangeiros. Eu ouvi os gemidos dos filhos que Israel, pela opressão que padeceram dos Egípcios; E lembrei-me do meu concerto. Por isso dize aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor que vos hei de livrar da servidão, e que vos hei de resgatar com poderoso braço, e por meio de grandes juízos. Eu vos tomarei por meu povo e serei o vosso Deus, e sabereis que eu sou o Senhor nosso Deus depois que eu vos tiver tirado da prisão dos Egípcio; e depois que vos tiver introduzido na terra, sobre que levantarei a minha mão para dar a Abraão, Isaac e Jacob; porque eu vos meterei de posse delia. 

Lida esta parte das Santas Escrituras foi anunciado o hino avulso "Satisfeito" que foi entoado por todos.

 

 

Síntese do Sermão cívico-religioso 

 

 

Pronunciado pelo Revmo. Cicero Siqueira por

Ocasião do culto em homenagem

 Ao centenário da Independência.

 

Tomadas por texto as palavras acima transcritas começou o pregador dizendo que o cativeiro do povo de Israel no Egypto. Tem semelhança com o nosso cativeiro político e tipifica o nosso cativeiro espiritual, mas antes de entrar na meditação destas verdades, congratulemo-nos — disse o orador — com o Senhor Jesus, pelas alegrias deste dia que assinala a maior vitória para um povo. Saudemos o 'seu arrebol, pois estamos em paz e em paz nos foi dado festejar o centenário da Independência da Pátria,

 

 

 

Ebenezer — Até aqui nos ajudou o Senhor. 

 

 

E continuou o orador:

 

Israel no Egypto tinha atingido a sua maioridade, era chegado o momento de emancipar-se, mas, o que para um pai é motivo de alegria, para Faraó, senhor déspota, era uma desgraça, pois à custa do trabalho dos israelitas tinha se engrandecido o Egito, e tornado poderoso Faraó. 

 

Aquele nobre povo estava em terra estranha, mas tinha pátria, e Deus era o seu rei. Foram livres, mas agora gemiam sob o guante férreo de Faraó despótico. Trabalhavam sem remuneração, choravam sem consolo, e só canseira, e só vexame, e sofrimento eram o seu quinhão. 

A situação deles era angustiosa, mas os seus gemidos, os seus clamores, um dia, chegaram aos pés de Deus, e Deus na visão da sarça ardente de Horeb, revelia a Moysés que sou a hora alvissareira da libertação de Israel.

A moita abrasada em chamas rubras simbolizava o povo hebreu oprimido e tiranizado por Faraó. 

A sarça, planta rasteira, revelia humildade, e o fogo que a envolve sem a consumir, sofrimento. 

Lembrei-me, diz Deus.

O povo estava em agonia, desterrado, escravizado, açoitado pelo azorrague de Faraó.

E nesta hora angustiosa, que Deus vem em socorro de seu povo eleito. Lembrou-se, sim, lembrou-se do seu concerto com Abrahão, a quem tinha prometido a bem-aventurança da família da terra o seu patriarcado sobre os domésticos da fé.

Lembrou-se e disse.

Eu sou o Senhor.

Nestas palavras está revelado o poder de Deus que se vai manifestar abatendo a cerviz endurecida do monarca déspota, libertando o seu povo.

Quando Deus mandou Moysés tirar o povo de Israel do Egito, o humilde pastor de Màdian, temendo que o povo não o acreditaria enviado de Deus, pediu que Deus instruísse acerca do que deveria dizer ao povo, Respondeu-lhe o Senhor Deus: “Dize-lhe: Eu sou o que Deus me enviou a vós".

Havia segredo neste Eu sou. Deus ia se revelar conforme as circunstâncias: a Faraó: Eu sou o Deus todo poderoso; a Israel, o Deus que te livra. Ia Ele por meio de Moisés, frágil homem, fazer a independência de seu povo. Tinha soado a hora de sua independência do jugo de Faraó ou morte horrível sob o mesmo jugo. Um povo ciente e consciente do grande papel que ia desempenhar no meio da humanidade, pelas promessas Feitas, não podia continuar por mais tempo sem pátria, sem governo estabelecido, sem leis.

Eu sou o Senhor que vos há de tirar da prisão dos Egípcios.  

Trava-se o duelo; Faraó, no auge do seu orgulho, blasfema e diz: "Quem é Jeová para que eu lhe obedeça; não conheço senhor," não deixarei sai a Israel!" 

Diz Deus a Moisés: "Agora verás tu o que eu vou fazer a Faraó: Porque por mão poderosa os deixará sair e com mão robusta os lançará fora da sua terra".

Deus promete livrar e resgatar o seu povo e Faraó ignora que dura cousa é recalcitrar contra o aguilhão.

Vão se revelar os destinos da providencia; a parte mais fraca será a vencida. Eu vos hei de livrar, diz o Senhor Deus, por meio de grandes juízos. Surjam esses juízos: São as pragas que vão aparecendo à proporção que Faraó endurece o coração, e fecha os ouvidos aos rebates da Providencia.

Sobre as terras egípcias apareceram as rãs que invadindo tudo e tudo devastando obrigam. Faraó a pedir misericórdia para reincidir na obstinação logo que a praga foi suspensa. O pó da terra transforma-se em mosquitos, as moscas devastam, a pestilência assola, as pedras desmudam, os gafanhotos devoram, as trevas envolvem toda a terra egípcia e Faraó zomba de Deus.

A serie das pragas culmina na mortalidade dos primogénitos.

Deus anuncia que o anjo passará e matará todo o primogénito desde o mais humilde ao filho do rei. Mas é necessário que não morra um sequer dos primogénitos dos israelitas. Deus mesmo faz a previsão. Ordena que de sangue de um cordeiro sem defeito se borrifem, as ombreiras das portas, que será por sinal e o anjo destruidor, vendo passará por cima.

Era meia noite quando o mensageiro passou desde o primogénito o mais humilde até o primogénito de Faraó, todos pereceram.

Faraó, horrorizado intima que o povo saia.

Passados os horrores dos primeiros instantes o obstinado rei persegue o -povo que triunfante ruma á Canaã, por impérvios desertos.

A pé enxuto. Israel passa o Mar Vermelho e Faraó tentando fazer o mesmo perece com os seus carros e cavaleiros no furor das vagas do mar irado.

Senhores estava feita a redenção. Deus tinha resgatado o povo por meio de sangue, porque sem derramamento de sangue, não há remissão.

Além do mar, Moises entoa o canto da vitória; estavam livres, independentes.

Aprenderemos daqui a pouco, desta história, alta lição espiritual.

Senhores, podemos ver neste facto da história de Israel, muita semelhança com a nossa história política.

Vivíamos em um país que era nosso, mas onde erramos escravos; éramos nação ciente e consciente dos nossos deveres e direitos, mas os reis de Portugal não sabiam compreender o palpitar do coração de um povo que se agitava para a conquista de sua liberdade, autonomia, Independência.

Vivíamos condenados a triste sorte de escravos, trabalhando para as pródigas cortes de um Reino, canalizando o nosso ouro. Nossas riquezas para um país que se erguia e se impunha ante os outros países, escudado em nossas forças, em nossos trabalhos, sem que nos assistisse outro direito senão o de trabalhar sem murmuração.

Nossas forças estavam tolhidas, quando as queríamos para o bem da terra, não podíamos produzir senão o que se nos destinavam, e nas nossas fontes suarentas caia o montante do reis e rainhas perversos.

Gritos de liberdade, inconfidências, revoluções abafavam-se em sangue, maldição e infâmia. E para encravamento dos sobreviventes, trabalhos forçados, tarefas duplas, impostos asfixiantes, opressão e degredo.

Infernal cativeiro como este só o de Faraó das Escrituras.

Um dia o gemido do povo sofredor, encontrou eco. Houve luta, e a força maior combatendo a menor, derrotou-a em campo aberto, e a 7 de setembro de 1822 proclamou-se a redenção de um povo grande e nobre.

A nossa independência foi feita sem sangue, mas para que um dia a liberdade fosse uma realidade, como foi no dia 7 de setembro, foi necessário que entusiastas

Derramassem sangue afim de que com razão sobrada se diga que até mesmo na redenção de cativos políticos, haja sangue.

Além-mar, aquém-mar, separam-se e aquém do mar de tribulações e angustias, espraiando as nossas vistas e vislumbrando os inimigos de nossa nacionalidade vencidos para sempre podemos entoar o canto triunfal:

 

"Ouviram do Piranga as margens plácidas

 

"De um povo heroico o brado retumbante;"

 

Agora Senhores, que falamos de um cativeiro faseio e que muita semelhança achámos com o dos descendentes de Abrahão, no Egypto dos Faraós, falemos de um segundo cativeiro a que está preso a nossa Pátria, cativeiro mais odiento do que o do Egito, mais humilhante do que o de Portugal, pois é o cativeiro espiritual, cativeiro do pecado.

 

Este cativeiro tem seu símile ainda no cativeiro do Egito como veremos.

Senhores, desde o momento que os nossos pais Adão e Eva pelo gozo efêmero do pecado trocaram a doce comunhão com Deus comendo o furto proibido, que se tornaram escravos de um senhor mais infame que Faraó, o senhor pecado, e nós que somos descendentes de Adão por geração ordinária ficamos espiritualmente escravizados obedecendo incondicionalmente aos impulsos de nossa natureza descaída e pecaminosa, feitos jogueis, títeres à mercê do pecado. Mergulhámos nas trevas e pecamos por pensamentos, palavras e obras. Deus, porém, que sempre odiou o pecado mas amou o pecador, sua imagem- e semelhança, faz que nos meios das trevas em que se debatiam os nossos pães, após a queda, brilhasse uma luz esperançosa — o protoevangelho. Revelado naquelas palavras: — "A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente. ”

Por milênios, a descendência de Adão foi alimentada de esperanças, alentada por símbolos e tipos prenunciadores da obra da redenção e liberdade que a semente prometida proclamaria aos cativos do pecado.

Sob o governo do pecado, a humanidade sofre mil vezes mais do que os israelitas no Egypto. Trabalha incondicionalmente no seu serviço, e como recompensa de tanto esforço, de tanto trabalho, de tanta canseira, só males, só sofrimentos, dores, agonias e morte temos por salário.

A lei, promulgada por Deus, era santa, justa e boa, mas com os seus fulgores, só terrores nos causaram, pois ameaça ela: a alma que pecar esta morrerá.

Vêm os suspiros por Deus e nas noites intérminas em que se debatia o gênero humano, suspirando por Deus, como o servo pelas correntes das águas, para clarear, por momentos fugazes, o caminho para palmilham os romeiros da eternidade, brilhavam como archotes bem-ditos, as palavras proféticas.

Isaias, cognominava-se o profeta evangelista e vaticina o nascimento do Libertador apelidando-o Admirável, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Os tempos correm, a humanidade sofre, as dores apertam, e os gemidos agonizantes repercutem nos céus e Deus lembra-se de suas promessas, e na plenitude dos tempos, no estábulo humílimo de Belém -f por entre as harmonias do céu e à pobreza dos homens nasce o Preparando ante a face de todos os povos o Desejado das Nações, o Almejado dos corações, o Redentor dos pecadores, o Libertador dos escravos — Jesus Cristo — O Verbo Eterno Encarnado.

Abriu-se uma nova fase para a humanidade, soprou um vento libertário, os homens respiram melhor.

Mas, Senhores, a humanidade estava vendida. Era necessário resgatá-la, ampara-la. O ouro e prata que são cousas corruptíveis não na podiam comprar. 

Todos são pecadores, portanto, escravos do grande inimigo das almas, Satanás, que não consentiria que elas fossem arrancadas de suas mãos sem que ele fosse indemnizado pois são suas, essas almas, ele as comprou pelo gozo do pecado, e ele que tem os reinos deste mundo, pois os ofereceu a Jesus Cristo quando o tentou, exige elevadíssimo preços pelos escravos que são seus, lhe obedecem, estão sob suas ordens. 

Todos são pecadores, portanto escravos, sujeitos à justiça inexorável de Deus. De um lado o Amor de Deus queria livrar os escravos, do outro lado, a isto se opunha a Justiça de Deus que não tolera o pecado pois macula aquele outro atributo do Deus Santidade.

O Amor e a Justiça tinham de se harmonizar, de se

Beijar.

Senhores, sem derramamento de sangue não há remissão, diz o Supremo Código — ás Santas Escrituras. Para Israel sair incólume do Egypto, era necessário que nos umbrais de suas portas visse o anjo o sangue do Cordeiro.

Senhores, Jesus Cristo é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, com bem disse João Baptista. Aqui estou oh! Deus para fazer a tua vontade.

Estava decretado que o Senhor Jesus devia pagar o preço exigido — Sangue. É na Cruz do Calvário que este sangue corréu. La no cimo altaneiro da cruz — o seu trono, tendo aos pés o negro quadro da perversidade humana, e ecoando aos seus ouvidos o coro infernal dos impropérios e doesto, o sarcasmo blasfemador da turba multa, o seu lado dilacerado jorrando sangue, ele alça a voz e diz — "Pai perdoa-lhe..." Consummatum est — Tudo está consumado.

Pelo sangue derramado, fez-se a redenção, pagou-se o preço, proclamou-se a liberdade, e ficou cativo o cativeiro.

Deus humanizado, pregado no topo de uma cruz, no cimo de um monte onde dardejaram os raios ardentíssimos da Justiça de um Deus irado, desfraldou o Pendão Real do Evangelho, Boas Novas que nos dizem que Deus em Cristo resgata, salva e glorifica o pecado.

Senhores, o povo Brasileiro, como todos os povos da raça de Adão, é pecador, e como tal necessita da salvação que Jesus Cristo trouxe.

Deprequemos aos céus para que em breve se festeje a liberdade espiritual do Brasil, liberdade dos mil pecados que o assoberbam dos vícios que o empolgam, da impudicícia que o contamina, do alcoolismo que o embriaga, do jogo que o deslustra, do analfabetismo que o atrasa, das superstições que o atemorizam, e seja a nossa grande Pátria regida espiritualmente pelo Senhor Jesus, Reis dos Reis, Senhor dos Senhores.

Terminado esse sermão o presbítero Francisco Gueiros erguendo-se diz que deseja saudar seus irmãos no dia da Pátria. Em seguida se confessa grato a Deus por ter Ele, na sua infinita misericórdia, lhe concedido que, embora velho, visse a Pátria festejando o seu centenário da Independência, e que desejando se congratular com os seus irmãos, quer ler-lhes uma parte das

Santas Escrituras, a qual não tem só cem anos de existência, mas muitos milênios, pois são os Dez Mandamentos escritos por Deus em pedras lá no monte Sinai. Quanto se sentiria alegre, diz o presbítero, si neste dia festivo, em toda a vastidão do território, nacional, se meditasse naquelas palavras dadas pôr Deus, por entre o ribombar dos trovões e o fuzilar dos relâmpagos.

Abrindo as escrituras lê sob profundo silencio os

Dez Mandamentos dados por Deus a Moysés.

Terminada a leitura fez uma exortação dizendo que, em nenhum momento sequer da vida de cada crente fossem esquecidas aquelas palavras.

Convidados todos para se dirigirem a Deus em. Oração foi pelo mesmo presbítero dirigida a Deus tocante prece.

Anunciou-se o hino 266, Deus salva a Pátria, findo o qual impetrou o pastor a seguinte

 

Benção apostólica

 

A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai a Comunhão e Consolação do Espirito Santo sejam com todo o povo brasileiro açora e para sempre, amém.

 

HINOS

 

(Primeiro hino cantado a quatro vozes no Culto

Evangélico no dia 7 de Setembro)

 

      Antífona

 

         (Salmos e Hinos 233)

 

Tua, oh! Deus, é toda a grandeza,

 

E o poder e a gloria

E a Vitória e os louvores eternos;

Pois tudo o que está no mar,

E no Céu, e na terra, é teu.

Teu é o império, oh! Senhor!

E tu és acima de todos os Reis.

Amém Aleluia!

 

(Terceiro hino cantado a quatro vozes)

 

 

Deus salve a Pátria

 

(Salmos e hinos 266)

Por nossa Pátria oramos

A Ti, supremo Deus!

Por nosso lar clamamos

A ti, oh! Rei dos Céus!

Bem-dize a vida pastoril;

Governa o brio senhoril;

Tempera a lida mercantil;

Deus salve a Pátria! Etc.

 

Os jogos esportivos

 

 

Os jogos esportivos remontam aos tempos idos. Os anfiteatros de Roma e os Estádios da Grécia, ah estão nas páginas da história confirmando não só está verdade como vivamente atestando que a cultura física foi sempre a pregada por pedagogos como Licurgo, que a reputou indispensável coadjutora no aperfeiçoamento da mocidade estudiosa.

 

Embora os jogos atléticos, hoje em uso, não sejam, exatamente, os da entidade, contado não podemos negar que a eles muito se assemelham e deles se derivam.

 

A BARRACA VERDE

 

 

Aperfeiçoados e vitoriosos como estão por toda a parte do mundo civilizado, têm esses jogos por advogados, médicos de nomeada, professores eméritos, diretores de instituições, que ex-cathedra pregam sua necessidade como complemento à cultura e ao desenvolvimento intelectual, realizando os preceitos sábios: mens sana incorpore sano.

 

 

Otimistas há, que reputam os jogos esportivos, em seus matches internacionais, como poderosos laços de confraternização entre as nações e raças discordes. Quanto a este conceito é de lastimar que grande parte da mocidade o tenha desvirtuado não o correspondendo quando em contato com os adversários no campo da peleja.

 

Os factos de ultimamente demonstram que os moços, empolgados mais pelos jogos que pelos deveres de cortesia, têm espezinhado os mais comecinhos preceitos de educação, de civilidade, em pleno estádio, praticando atos verdadeiramente incompatíveis com o seu caráter, de jogadores civilizados.

Oxalá seja, em breve, conjurado tão grande mal, realizando o atletismo, entre os povos, o sublime escopo para que repropôs.

Para os festejos do Centenário foram no País anunciados matches internacionais, interestaduais e intermunicipais, como parte integrante das festas comemorativas.

 

Fotos

 

 

Canhotinho, rico Município do Estado de Pernambuco, posto que quase desconhecido lá fora, precisava de mostrar que não estava aquém dos povos cultos e alheio à educação moderna, e para isto, de antemão preparou-se, resolvido a dar, no grande dia nacional, uma nota honrosa da sua tendência para o desenvolvimento e aperfeiçoamento, realizando também jogos esportivos, dignos da apreciação de um público educado.

 

Neste propósito, anunciou então Canhotinho, para a tarde do dia 7 de setembro, uma variedade de jogos, todos próprios dessa criançada que se vae admiravelmente educando nas suas escolas, para serem, no futuro os homens da Pátria.

Coube ao Sr. Cícero Siqueira, um dos professores do Colégio Evangélico, trenar a meninada daquele educandário para essas diversões. Assim, de há muito vinha ele, o Sr. Cícero, promovendo ensaios de vários jogos: os quais eram efetuados no alto da Parasita, mesmo no local onde fica situado aquele Colégio.

Todas as tardes os trenos se realizavam, sempre animados e promissores de ferrenhas lutas no campo das decisões. Já desse tempo começara o entusiasmo. A gritaria dos meninos e a originalidade dos brinquedos, muito cedo atraíram a curiosidade dos transeuntes, que a proporção que se iam agrupando convertiam-se em "Torcedores" de uma das partes disputantes. 

O "Cabo de Guerra", foi o primeiro a despertar esse entusiasmo. Excelente exercício físico, de efeito arrebatador, todos os que assistiam o seu treno eram de tal maneira empolgados que uma das vezes, quando o lado em cuja ponta puxava o rapaz Tadeu, venceu b lado em fui puxava o Fernando, ouviram-se os primeiros vivas Encarnado, cor com que se vestia um dos grupos lutadores. Batizado assim, ex-ábrupto, um dos lados, o outro foi, incontinenti, chamado Verde. 

Lamentamos que os que adoptaram aquela primeira cor não tivesse refletido, na ocasião, que todos se estavam preparando para festejar um dia nacional, o dia da Independência, e por isto deveriam. Escolhei também uma das cores nacionais, o amarelo, para com ela se vestirem e assinalarem o seu partido. Há neste argumento, tanta razão, tanta lógica que, dele se utilizando os partidários do Verde, muito facilmente adquiriram adeptos, que fortemente engrossaram o seu partido.

Foi Urbano Vitalino que, à frente da um numeroso grupo, iniciou formidável preparando para o Encarnado, conseguindo engrossar as suas fileiras com bons e valiosos elementos. Do outro lado Sólon Vidal, que também desenvolveu cerrada campanha em favor do Verde, alcançando igualmente número considerável de torcedores e adesões de valor incontestável.

E foi assim criado, com surpresa de todos os promotores das festas cívicas, os partidos Verde e Encarnado que tanto rebuliço e alarme despertaram em Canhotinho no dia memorável de 7 de setembro.

Não há regra que atravessamos uma época não só de agitações, mas de insatisfações e descontentamentos gerais. Os homens, como uma família desavinda, em tudo encontram algo a se opor. Por tudo querem gritar e gritar seja contra quem for.

Há pouco assistimos uma campanha bem demonstrativa de ouve o espirito da revolta e da oposição que, continuamente tem açoitado o velho mundo, por entre nós perpassou atestando vivamente a insatisfação do coração humano. Foi a campanha presidencial, campanha que bem podíamos chamar de ódio e de infâmia, cujos frutos macabros e sangrentos foram os cadáveres de um punhado de moços, heróis de cousa inglória.

Em o nosso Estado pairou também essa nuvem que o ar escureceu, e os ânimos se eriçaram. —TM és feio...— Feio és tu; — foram as cortesias da nossa imprensa nos dias atribulados da questão governamental. Soldados, cangaceiros, carabinas, vasos de guerra, tiros, correrias, mortes e assaltos constituíram as anormalidades, que provam o nosso acerto, consequentes dos desejos insaciáveis do homem na sociedade.

Canhotinho, do mesmo modo, não podia escapar a essas influencias mesológicas e na sua política, situacionistas e Dissidentes queriam também gritar preparando-se para uma luta, que seria fatal se um acordo honroso não viesse, mais tarde, sufocar as paixões em litígio.

"Mas quem pode conter a palavra concebida?" já indagava o pensador de Ur.

Nas questões do Verde e do Encarnado em Canhotinho não houve, para felicidade nossa, o fogo dessas paixões destruidoras da paz social; com tudo tivemos a gritaria dos partidários insatisfeitos ensurdecendo e abalando toda a cidade, como se o Vesúvio estivesse em plena erupção entre nós. As divergências e o espirito de oposição sistemática na alma de cada um dos torcedores, foram a maior novidade dos dias alegres que atravessámos. Na luta dos partidos nenhuma conciliação; pelos triunfos todos se batiam, encarnado e Verde, embora só nas catequeses, que foram realmente desenfreadas e perseverantes.

Mas relatemos o acontecimento.

Os adeptos desses dois cordões se multiplicavam assustadoramente a todo o momento e a propaganda continuou intensa, preparando-se cada partido para brilhar no dia. Ainda bem uma ideia não esvoaçava no cérebro de um verde, no de um encarnado já uma resolução produzia os frutos da vitória arquitetada. 

Harmonizaram-se, porém, num ponto, os inconciliáveis adversários: — todos construíram "barracas" símbolos dos partidos em luta.

Cousa admirável! Daí por diante ninguém mais transitou pela cidade sem ostentar a cor que o fez partidário. Aqui é um cidadão que até o chapéu já tingiu de encarnado; ali é outro que passa garbosamente enfaixado no verde; acolá um terceiro, que monta fogoso corcel e anuncia publicamente sua predileção pelo rubro; mais além um quarto trajando camisa e gravata cor esperança.

O Caetano Vidal, cuja família se dividiu na questão, fazendo ressaltar a sua preferência pelo encarnado, veste pelo avesso um grande poncho dessa cor, e aos raios do sol passeia alegremente.

Viva o Verde, viva o Encarnado são os gritos que encheram o espaço, vibrados incessantemente nos dias de preparativos das grandes festas da Liberdade.

 Sólon Vidal, João Vidal, António. Pimentel e. D. Leopoldina Correia tornam-se os heróis do Verde o. mesmo se dando em Glycério, com o Cap. João Miranda de quem se recebe no dia 6 o seguinte telegrama: —Reina delirante entusiasmo VERDE principais famílias Glycério; Batutas em preparativos. Seguiremos trem manhã. Nem um ENCARNADO. Viva o VERDE.

Igualmente, D. Ernestina Vidal, D. Zuila Vidal, Cap. Nicolau Teixeira, senhorinhas Esmera Vidal, Rachel Vitalino, Esther de Barros, Amnésia Vidal e Cecília

Lopes mostram-se incansáveis trabalhadoras no serviço do Encarnado.

No Tipy Cícero da Matta, por sua vez, se põe em campo e contrata, com surpresa, para o encarnado, uma macaca lépida e dançarina e um zabumba para no dia da festa entrar triunfantemente na cidade tocando o índio Nacional.

E assim nessa azáfama, amanheceu o 6 de setembro,

Boa véspera do dia 7.

Continua com mais intensidade e calor os preparativos para o triunfo. Agora é o major Vitalino superintendendo uma turma de trabalhadores, que obstruindo troncos e barrancos aformoseiam o Alto da Parasita; depois o Cap. Nicolau Teixeira, que traçando no chão, ao lado do colégio um triângulo, dá começo a construção da barraca Encarnada. Do lado oposto desenrolam-se cordas e, engenheiros desenhando no solo, uma estrela, inicia-se a barraca Verde. Trabalhadores atacam o serviço e as barracas se vão erguendo, despertando em cada um dos partidários maior gosto e mais funda paixão pela sua cor.

As 12 e meia, porém, deixam os partidários do Verde os afazeres e em grande passeata vão à estação recepcionar os Glycerences, que tendo à frente João Miranda, Muniz Teles e João Pugliesi desembarcaram debaixo de fogos e vivas alarmantes, rumando todos o Alto da Parasita, já em rebuliço.

As 18 horas tem os encarnados, pronta exteriormente a sua barraca, graças à facilidade que lhes outorgava a planta, a operosidade de seus confeccionadores a maneira de ser ela coberta por meio de panos enrolados em vez de costurados. Os verdes, entretanto, pela morosidade dos seus construtores e pelo capricho de se costurar o pano da coberta, só esperavam ter levantada a sua barraca pela madrugada do dia 7.

Enquanto assim procediam os apaixonados das duas correntes, com admiração de todos, ornava D. Águeda de Mello uma palhoça, em forma de meia-água com a denominação de Paz e Concórdia.

As 19 horas ouvem-se foguetes. —Que há? Perguntam todos curiosos. — A macaca, que rigorosa e garbosamente vestida de encarnado fazia a sua entrada triunfa na cidade, por entre vivas e aclamações delirantes

A meia noite desse mesmo dia estava a Barraca Encarnada quase concluída, o que fizeram os seus adeptos sob rigoroso sigilo. Vaticinou-se então o fracasso da Verde, cujo pano da coberta ainda não se achava pronta àquela hora.

As 2 da madrugada, porém, provava-se o contrário; esta barraca exibia a sua bela coberta logo mostrando altiva e orgulhosa a sua artística forma estrelar. Daí por diante mãos ágeis cativaram-lhe a decoração para poucas horas depois estar ela definitivamente acabada dando a ideia de um bosque natural onde não faltavam lindas avencas e palmeiras o lentes.

A Encarnada em cujo centro brilhavam, àquela hora, focos de luz, dava ao espectador, ao longe, a ideia de uma um incêndio de cerração. Em alto mar, visto através das brumas

Ambas ofereciam, ás 6 horas da manhã, ao nascer do sol, um quadro imponente e encantador. O serviço de enfeite estava, de facto irrepreensível.

Geograficamente adornavam a Barraca Encarnada faixas vermelhas trazendo, em letras brancas, os nomes, dos Estados, conforme se acham estes traçados no imenso triângulo brasileiro. A' sua entrada, também em letras brancas e fundo vermelho, lia-se esta inscrição: — 7—9—1922. — No interior lindos enfeites japoneses, belos ramalhetes de rosas autuares inteiramente encarnadas, dois barcos artísticos e simbólicos revelavam que um gosto estético e mãos artísticas ali pairaram.

Do topo do mastro que se erguia dói seu centro flutuava a Bandeira Nacional. Aos raios do sol que lhe caia sobre a coberta, era essa barraca como que uma chama ardente tingindo o espaço e as pessoas presentes de uma coloração rubra.

Quanto à Barraca Verde, era esta, aos primeiros beijos de Hélios a Mãe Natura, um bosque transplantado dos sombrios matagais e engastado na praça desnuda do Alto da Parasita. No seu interior, sob uma coberta em forma de estrela verde amarelo ostentavam-se variedades de avencas, desde a mais delicada Madagáscar ao feto de nossas florestas. Em derredor farfalhavam folhas de palmeiras. Pinotes em profusão, lindas rosas artificiais, todas verdes e variedades de brotos completavam o quadro arrebatador.

Enfim, quem contemplasse qualquer uma dessas barracas, por força se tornaria partidário de uma de suas cores, tal a sua sedução, o seu encanto.

 

As 10 horas do dia 7 já era intenso o movimento em torno das barracas aguardando-se o início dos jogos da criançada. Não mentimos; a gravura que adiante reproduzimos atesta-o cabalmente. Uma alegria doida sacudia a multidão formada pelos partidários dos cordões que se iam bater; ninguém se ouvia, ninguém se compreendia; só os vivas ao Verde e ao Encarnado imperavam no espaço estimulando os jovens batalhadores para o triunfo da peleja. Eis quando se constitui uma comissão composta dos Drs. José Vieira Rabello, Geroncio Borba e Rev. Cícero Siqueira, Manoel Vidal e Caetano Vidal para levar, em nome dos partidos disputantes, ao Vigário Moysés Ferreira, o convide da festa desportiva.

 

Chegado que foi, este distinto sacerdote, ao campo das barracas, debaixo de música e aclamações, ouviu-se o tocar de uma campanha e logo em seguida, ao som do hino musicado pelo Sr. Bernardino Alves de Mello, deu entrada na arena do jogo, o Cordão Encarnado, o mesmo fazendo o Cordão Verde, todos ovacionados.

Prenunciava-se renhida a luta e ninguém se atrevia a vaticinar a vitória. 

 

Compunham o team verde: Fernando Correia, José Vasconcellos, Ephren Victalino, David Lyra, Josué de Souza. Jonas Gomes, Carlos Pinto, Nelson Alcântara, Manasses Costa. Formavam o Encarnado: Tadeu Vitalino, Ernesto Vidal, António Pereira, Osiel de Barros, Caetano Vidal Netto, Francisca Vidal, Romeu Pinto, Allonso Costa e Noé Lyra. Ao todo 18 jogadores que se empenhavam pela vitória á sombra das bandeiras de seus partidos. Espetáculo alegre e de sensação, embora representados por criaturinhas ainda na flor da vida. 

 

Começou o jogo com a luta do Calo de guerra. Voltadas todas as atenções para as equipes adversarias, estas sentiram-se estimuladas tornando a peleja renhida e duvidosa para cada lado. Vem a gritaria de vivas e protestos e ninguém mais se compreende. O grupo torcedor vae até ao Cabo de Guerra e o critério do jogo desaparece. Entusiasmo e confusão.

Na balbúrdia proclama-se a primeira vitória do verde. Há protestos, apontam-se irregularidades; ouve-se o Juiz e o embate é anulado. Dá-se começo então a nova Iuta; é agora o Rubro que triunfa, dando lugar a maior gritaria. O apaixonamento excede e os partidários perdem a calma. Dá-se o jogo por terminado e inicia-se uma parte intelectual.

E o campeão do Encarnado quem primeiro pede a palavra e recita, do alto de uma banca, bela poesia patriótica. Depois, o menino Tranquilino da Cruz, trajando uniforme de oficial e espada desembainhada, diz sugestivamente outra poesia alusiva ás cores rivais. Aclama-se o Major Joaquim Vitalino e este rememora então feitos gloriosos dos nossos antepassados rematando a sua oração com uma saudação ás cores, naqueles momentos incompatíveis.

A torcedora do Verde, Beatriz Rodrigues, recita admiravelmente a longa poesia de Castro Alves "O Século". Aclamado, fala ainda o Sr. Cícero Siqueira, que saúda no Verde a esperança de ver um dia o Brasil, como a principal Nação do Mundo, e no Encarnado o sangue revoltoso e vitorioso da raça latina.

 

A multidão já se mostrando mais calma desejava ver a Briga de Gansos. Escalam-se novamente o Verde e o Encarnado para a luta, e esta começa com. o mesmo interesse e mesmo ardor dos momentos antes. Por espaço de cinco minutos há esforços admiráveis entre os disputantes sendo por fim derrotado o Encarnado, que rebola e fica à mercê do adversário vitorioso. Nova peleja e é vencedor ainda o Verde. Fragorosas palmas e estridentes vivas aclamam a cor de nossas florestas.

 

Anuncia-se a Corrida de Centopeia. No primeiro arranco, que foi longo, consegue-se honroso empate. No segundo, porém, ao meio do caminho, o campeão do encarnado perde o equilíbrio e cai com todos os seus companheiros, atingindo o Verde o alvo sob estrondosas manifestações de alegria.

Terminara o jogo e ás 12 horas teve lugar o lanche.

Cestas enormes de sanduiche, bandejas transbordantes de bolos foram trazidas para as Barracas pelos Esforçados Cristãos que os iam distribuindo aos visitantes.

Enquanto isto se fazia, na barraca "Paz e Concórdia" comissões especiais de "Esforçados" distribuíam xícaras e mais xícaras de saboroso café.

As 12 e meia horas, o dia que até então tinha sido formoso, transmudou-se e as nuvens empanaram os raios vivos do sol dando por terminadas as festas desportivas.

 

A sessão magna no Paço Municipal

 

 

Marcada para meio dia a sessão magna em que havia de ser pronunciada, pelo Dr. Geroncio Borba de Carvalho, uma conferência cívica em homenagem ao centenário da Independência nacional, devido ás chuvas que; inesperadamente, caíram sobre a cidade, quase torrencialmente, só ás 13 horas foi possível ao conferencista transportar-se de sua residência ao Paço Municipal, local designado para a realização do ato.

 

A essa hora. Já o edifício regurgitava de espectadores, na sua maioria pessoas de alto relevo na sociedade, compreendendo as autoridades judiciarias, representantes do clero, comércio, indústria, lavoura, etc....

O Paço Municipal apresentava um aspecto verdadeiramente festivo ostentando artística ornamentação externa e interna.

A "Banda do Centenário", sempre garbosa e disciplinada abrilhantava a solenidade, executando marchas patrióticas e de quando em vez, belíssimas valsas.

A alma popular vibrava com aquele mesmo ardor, com aquele mesmo arrebatamento de horas antes, quando identificada com as festividades já levadas a efeito. Tudo era alegria nesse cenário magnifico de comemoração cívica, porem uma alegria mais solene, mais representativa, mais digna de um povo educado e compenetrado do seu patriotismo e do seu amor pelas cousas de sua nacionalidade. Era. Podemos dizer, a alegria dos eleitos solta no âmbito da consciência inflaciona em delírio.

Dir-se-ia que uma grande capital ali se representava pelos seus elementos mais proeminentes. Para homenagear a Pátria rediviva, e jamais uma cidade desgarrada do Litoral e encravada nas longínquas paragens vizinhas dos nossos incomensuráveis sertões.

Festa de emoção e respeito; instrutiva. Por excelência Canhotinho a fez dignamente, falando bem alto do seu civismo.

À comandado dos Drs.  José Vieira Rabello e João Batista de Almeida, respectivamente Juiz de Direito e Juiz Municipal, e cidadãos Major Manoel Peixoto Pinto, Cap. Euclides dos Santos Motta e Luiz dos Santos Motta, o Dr.  Geroncio Borba, rompendo, sensibilizado, a multidão que o aclamava freneticamente, dirigiu-se à mesa da presidência, a qual foi imediatamente ocupada pelos Drs. José Viera, Dr. Baptista de Almeida e Revmo. Padre Moysés Ferreira, tomando o conferencista assento junto a outra mesa colocada à direita daquela e coberta com rica coberta verde-amarelo.

 

 AS TRES ORADORAS DO PAÇO MUNICIPAL

 

 

As 13 e meia horas foi aberta, pelo Dr. Vieira Rabelo, a sessão, ouvindo-se nessa ocasião o hino da Independência, secundado por estridentes vivas a Nação brasileira.

 

Readquirido o silencio, no meio da ansiedade geral do auditório, pronunciou o Dr. Presidente da sessão substancioso discurso congratulatório. Expondo, com proficiência de conhecimentos históricos, a razão de ser daquelas homenagens tributadas á Pátria, no dia em que se celebrava o centenário de sua emancipação política.

O Dr. Vieira Rabello falou cerca de quinze minutos, prendendo a atenção de todos pelo critério de sua linguagem sóbria, mas concisa, terminando por conceder a palavra ao orador oficial da festa.

Nesse momento sentiu-se vislumbrar no semblante do seleto auditório um que de extraordinário, de sensação estranha. O silencio tornou-se profundo e religioso, numa demonstração de respeito e atenção ao ato que se ia realizar, pelo qual todos se interessavam curiosos.

Levantou-se então o Dr. Geroncio Borba, logo empolgando a multidão com sua serenidade característica e seu porte de orador consciente e habituado à tribuna. Não ia Ele ler um discurso, ia fazer uma conferência histórica sobre o feito, que a Nação inteira comemorava jubilosamente naquele dia, e mais sobre os acontecimentos que se verificaram anterior e posteriormente, até a data do centenário.

Dentro desse programa delineou, o conferencista, com autoridade e competência inexcedíveis. O quadro majestoso da política interna da Nação Brasileira, em referência ao ponto culminante da sua história — o da Independência proclamada em 7 de setembro de 1822. Precisou bem, o orador, as razões desse movimento ingente da liberdade, o sacrifício dos seus heróis no cenário dos acontecimentos: a preponderância do príncipe D. Pedro desde a data imorredoura do "Fico" até a consolidação da Independência proclamada; fazendo, afinal, nos seu? Trinta minutos de oratória feliz e de incontestável alcance histórico transunto do feito, cuja importância pó lítica todo Brasil comemorou no seu primeiro centenário

 

PAÇO Municipal-onde teve lugar a Sessão Magna.

 

 

 

O Dr. Geroncio Borba terminou a sua conferencia debaixo de aplausos calorosos de toda a assistência, recebendo em seguida, inúmeros cumprimentos. 

 

 

 

Não estava terminada a solenidade do Paço Municipal. Após a conferencia oficial, foi concedida a palavra a todos os presentes. O dia era de festas nacionais, festas do povo, e por isto todos podiam manifestar-se. A Republica é assim mesmo; tem a sua afinidade com o povo, que dirige politicamente, sem dele poder desligar-se.

 

Na França, em. Julho de 1789 o povo, em formidável insubmissão contra a monarquia, poder absoluto, fez-se soberano, derrubando a Bastilha. O sentimento que o impeliu a isto foi o da democracia. E a republica implantada no coração do grande país amigo, não mais se divorciou dos seus legítimos fundadores, embora houvessem estes, em 93, abusado de suas invejáveis prerrogativas, realentando nas praças públicas o instrumento vil da guilhotina.

No Brasil, si respeitarem integralmente o regime proclamado em 89, jamais se cerceará a alguém o direito de manifestação pela palavra.

Aqui em Canhotinho foi bem compreendido esse princípio básico da Republica, no dia em que se realizaram as festas de 7 de setembro. Todo cidadão teve o sagrado direito de manifestar-se e dizer da Pátria o que entendeu e sentiu, sem, a ninguém causar enfado, ou aborrecimento.

Si em vez de cinco fossem cinquenta os oradores que falaram na sessão magna a que ora fazemos alusão, com intensíssimo prazer de todos nós ocuparíamos agora, lembrando e perpetuando tudo o que eles houvessem dito. Não fizeram este número os que se externaram, aliás, engrandecendo o nome nacional. Afora os oradores já mencionados, só três graciosas e inteligentes crianças entenderam de, solenemente, ou soberanamente, pedir a palavra no augusto recinto em que se verificou uma das mais significativas homenagens, que vimos de prestar a grandeza cívica da nossa nacionalidade.

A primeira foi a interessante Cleonice de Souza Callado. Esta criança, sentada junto à mesa da presidência e ali assistindo e ouvindo, com religiosa atenção, todo o desenvolver da conferencia oficial, como que absorvendo o que nela se dizia de valor e utilidade para os interesses da Pátria, sem nenhuma cerimônia, ergueu-se, passou um olhar investigador por toda a assistência e dirigindo-se ao presidente da sessão, exclamou, altiva e desembaraçadamente: Sr. Presidente, peço a palavra. E Cleonice ia mesmo falar; ia dizer aquela assistência de alta significação social, o que lhe haviam aconselhado que dissesse, na ocasião mais solene das nossas festividades; ia mostrar que na infância, na aurora da vida, também se sabe querer bem e amar as cousas santas; também se sabe compreender as grandezas de uma nação livre e independente, que assombra pelo seu progresso; também se sabe sentir emoções pelos triunfos imensuráveis do país natal, e exterioriza-las pelos lábios ainda em botão no jardim da vida; também se sabe respeitar e venerar o heroísmo dos mártires sacrificados gloriosamente, enaltecendo lhes a memória, que não desaparece, que é duradoura, que é imortal. As demais, Maria do Carmo Ferreira da Costa e Anua Rosa de Siqueira Passos não foram menos admiráveis nos seus arroubos de eloquência e entusiasmo, interpretando comi o mesmo sentimento o papel que a Cleonice fora confiada.

Na infância, logo que a razão se abre para receber a percepção das cousas, tudo isso se pode e se sabe dizer. Basta que eduquemos a criança conformando-lhe a inteligência com lições de pura moral e preservando-a dos desvios perniciosos que se desvendam largos à sua frente.

Assim teremos, incontestavelmente, a sua perfeição. A educação moral e intelectual em Canhotinho, não obstante a deficiência de escolas, na sua maioria dirigidas por quem ainda precisa de receber instrução primaria é, positivamente, apreciável. Apreciável na infância e na mocidade dos que aguardam no espirito como seiva da vida. Educadores há entre nós que se extasiam diante do progresso prematuro dos seus discípulos, em grande parte desprotegidos e até privados dos meios de subsistência. Admiravelmente inteligentes, esses discípulos têm uma inclinação natural para o saber, para o conhecimento da instrução, tão infelizmente descurada por quem se tornou responsável pelo bem moral, social e político de uma coletividade.

Não há absolutamente exagero da nossa parte. O leitor, com sua larga visão há de compreender a sinceridade da nossa linguagem, analisando as ilustrações do nosso livro.

Naquela gravura primorosa, representando os primitivos habitantes da Nação Brasileira — 21 índios Caetés que saem agrupados dos matagais silvestres — por exemplo, estão, não latentes, mas visíveis aos olhos de quem a contempla, o poder intuitivo da nossa criançada e a sua maneira de compreender as cousas, de assimilar-lhes a origem- e a significação; e ajuda mais a naturalidade e compenetração com que desempenha o papel que lhe é dado, quase sempre diante de uma multidão, como aconteceu no dia da passeata do dia comemorativo.

Dirá o leitor si as figuras representadas nessa ilustração fotográfica são ou não, na realidade, os habitantes da gloriosa terra de Santa Cruz, antes do seu aparecimento na carta geográfica.

Inegavelmente o são.

E note-se que há entre esses famosos "Caetés" um horrivelmente feroz, tipo integral da raça e cujo instinto se retraía vivo n& semblante carregado e contorcido que apresenta, por traz do seu instrumento de extermínio, a flecha.

Deferimo-los aquele que, no último plano da gravura, assesta, certeiro, o arco contra o inimigo que o surpreende e aos seus companheiros, achando-se colocado ao lado esquerdo daquele outro, que rice apalermado, mas também de arco em punho enfrentando o terrível adversário.

Si esse quadro não satisfaz, transportemo-nos ao da "A Filha de Jepthé", mais significativo e revelador dessa superioridade, que orna o espirito sublimado das filhas de Canhotinho.

 

 

Ali não é mais, já se vê, aquela mesma ereançada

 

 

Privilegiada que tanta graça e admiração nos proporcio:

na, mas são senhorinhás ainda no ardor da juventude,.que

sahem do seu recato hábitual, do seio carinhoso da famil.ia, do aconchego innocente das amiguinhás, para representarem, em publico, perante uma assistência de mais

mil pessoas, curiosa, exigente, e mostrarem o sentimento

da naturalidade e da arte em toda a sua perfeição.

Que quereis mais leitor amigo?

Contemplai, nas horas do vosso socego espiritual, esse

quadro verdadeiramente emotivo, empolgante e todo original, symbolo da grandeza d'arte reverberada atravez

de uma infinidade de séculos e dizei-nos si temos ou não

razão de decantar, com o jubilo immenso das tocantes felicidades, a intelligencia e" a percepção admiráveis das eleitas da Cashotinho ?!

Ah! Infelizes que nós somos, que não sabemos dizer

delias o que dissera do "Iniciado" Cruz e Souza o delicioso visionário das Evocações — "A arte dominou-te, venceu-te e tu por ela deixaste tudo; a viva, a penetrante,

a tocante affeição materna, de um humano enterueci' mento até ás lagrimas, até á morte, até ao sacrificio do

sangue. Tudo esqueceste, para vir fecundar o teu ser

nos seios garminadores da Arte".

Sim, não sabemos dizer delias o que, na verdade, elas 'merecem que se lhes diga, quando vestidas assim de

branco até os pés e transfiguradas em imagens, que não

faliam, mas que sentem e ouvem a voz occulta, mysterioun. que m;chán:cameiite lhes faz tomar, como estatuas, posições de graça e bEleza ainda não materializadas fora

da Arte, da soberana Arte.

Mas, perd|ôe-nos o leitor a divagação. Falávamos das

creanças que discursaram na sessão magna do Paço Municipal: Cleonice de Souza, Ánna Rosa e Maria do Carmo, três mensageiras da alegria feminina, no dia do maior .

jubilo para o coração de uma pátria, que é toda nossa,.

livremjente nossa.

Não diremos qual das três creaturinhás falou me-;

lhor, com mais expressão, com mais enthusiasmo. Todas;

nos encantaram e também ao publico, que as ouviu co-í

brindo-as de merecidos applausos.

 

Terminaram os discursos para ser recitado, pelo Professor Ayfrulpho Jorge de Souza, um soneto de sua lavra,

 

o qual adiante reproduzimos, com a epigraphe: "1822

— 7 de Setembro — 1922", e entoado pelas graciosas

Maria Emilia Correia Lima, Claudia Maurício da Rochá,

Cleonice de Souza Callado e Maria Pugliesi. o hino da

Independência, com o acompanhámento da uma afinca'

orchestra composta dos músicos: António Ferraz, Uly:ees de Alcântara, Francisco de Mello e Hqnorato Cordeiro.

Por fim, encerrou o Dr. Vieira Rabello a sessão fazendo,, com palavras cheias de emoção, nova referencia

ás festas comn^iemorativas do dia.

Em continuação a essa solemnidade. dirigiram-s? todos os presentes para o pateo do Paço Municipal onde se

verificou o plantio da "Arvore do Centenário", acto que

foi ainda prssidido pelo Dr. Vieira Rabello, servindo de

Secretario o Dr. Geroncio Borba, que lavrou circumstanciada acta a respeito.

 

Discurso pronunciado pelo Dr. José

 

Vieira Rabello, por occasião de abrir

a sessão magna no Paço Municipal.

Minhás senhoras.

Senhoritas distinctas.

Illustradissimos cavalheiros.

Há honras que se não recusam especialmente quando

quem as proporcipna merece a nossa estima, a nossa con^

sideração e, sobretudo, o nosso respeito, porque essa pessoa encarna a gentileza, o trato ameno e captivante e,

ainda mais, o Pastor emérito unificador dos coraqões dos

canhotinhenses nesta festa civica em que se solemnisa

a data MAIS GLORIOSA dos Brasileiros.

Pois bem, meus Senhores — se a minhá incompetência offuscar o brilho desta festa deveis olvidar as falhás

«e quem humildemente vos dirige a palavra e não cu.1-

 

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par ao nosso prezadíssimo Vigário que acreditou ter feito uma bjôa escolhá.

 

 

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Eu po-ileria dizer-vos que não tinhá necessidade de

 

dirigir-vos a palavra, porque o explendor incomparável,

o espectáculo grandioso p « aesembléa solemne em aue

estamos fazendo a glorificação do gvtmde DIA NACIONAL, está vos dizendo tuda, mas dizendo tudo quanto

nossa alma sente.

Estamos ainda e sempre filiados aos impereciveis

nrinp.iriios nue nos levarp^n á grande e sublime conquista

de 7 de Setembro <de 1822, concmista que foi o primeiro

passo para o regimen do "TALENTO E DAS VIRTUDES" únicos títulos de nobreza qiie a declaraqão dos direitos do homem reputa immortaes, indestructivsis e sempre essenciáes a qualquer organização política destinada

a rewr povos livres e conscientes.

Não sei de outros Estados nossos, que se logrem de

privilégios semelhántes ao do nosso bello Pernambuco,

Estado, conjunctamente, das tradições e do futuro.

Aqui se evoca inteira, aos olhos do espirito, a histora

do Brazil; e, com a expressão dos nossos destinos, cm

que o espectáculo das surprezas do nosso desenvolvimento nos enleva, se funde hármoniosamente a do nosso pás- J

sado na gradação natural das suas epochás. esbatidas uma J

a uma com a magia cio pincel das obras divinas.

l

Em o norte foi nestas paragens que teve o seu foco

o maior irradiar da nossa força expansiva, desenvolvida

primitivamente na elaboração da nossa nacionalidade e|

onde o generoso sangue jorrou pela nossa democracia. |

Tempos depois é nsllas que encontram a sua con-|

centrarão mais poderosa, as energias creadôras de uma.l

rovn ora na civiVsacão brazileira.

,

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Mas a resplandecência 'lê tão extraordinária tr

formação não apagou da tela os formosos traços da suaj

antiguidade.

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Debuxo-vivo, como o de certas bElezas favorecidas!

do Céu, cujo semblante guarda em todas as edades^síl

tigios sorridentes da meninez.

A D*eu ver, Senhores, a nossa magnificência. B

 

 

 

113 —

 

 

rial, nos seus esplendores, bem longe está da grandeza moral desses primórdios grosseiros.

 

A mistura com o sangue indígena, a lucta com o deserto, a fascinação das aventuras háviam começado a

ealdear o nosso caracter na tempera de uma raça nova,

a cujas audacias bravias deve o Brazil metade, talvez,

dessa corporatura gigantesca, em que se compraz o nosso

desvanecimento.

'A incultura, a bruteza, a selvageria das suas origens

e do seu meio lhes mesclaram a escoria das paixões e

crimes cuja violência, sem freio, ensanguentou de tremendos sacrifiVos a virgindade de nossas florestas, onde

os MISSIONÁRIOS, esposando o direito do gentio contra o seu escravisador, consagraram a mais nobre das

causas a mais serena e imperterrita das coragens.

Já então nos davam esses lidadores da Cruz a lição inolvidável do valor das resistências da liberdade

contra a ambição em armas.

Dianteiros da. Expansão portugueza na America do

Sul. os Paulistas fundaram, nos séculos XVI e XVTT. os

primeiros estabelecimentos de Minas, de Goyaz, de Matto

Grosso, Santa Cathárina, Rio Grande, conquistaram a

província Castelhána de Guaiara, obrigaram os hespanhóes a evacuar a bacia do Jacuhy. a do Ibicuhy, a do

Piratinin e a cordilheira do Peru.

Não fora o valor e o arrojo desses caçadores de homens, e a costa do Brazil ao sul de Paranaguá seria hoje hespanhóla. hespanhóes variamos os sertões de Matto Grosso e Goyaz; outro povo occuparia as melhores

zonas, respiraria os nossos ares mais benignos, cultivaria as nossas mais desejadas terras.

Na sua maior parte o Sul do Brazil representa uma

conquista dos Bandeirantes.

Com uma intelligencia, um sentimento, uma intuição da naturesa. que leva o assombro dos geographos modernos a veir nesses roteadores do nosso deserto "os creadores da geographia pátria" cujos caminhos abriram, cujas magnificencias dominaram, cujos aspectos definiram

&'uma nomeclatura admirável, os grandes sertanistaa

 

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dos séculos XVI e XVII, encarnando em si mesmo o mundo gigantesco e agreste de suas proezas, dEle embebiam

uma consciência de força, uma rigesa de caracter, um

Render á autonomia que os levaram a antecipar, — em

1641, — a nossa independência só consumada ausentas

annos mais tarde.

Era justo, consequentemente, que nos echos de S.

Paulo se confiasse, — em 1822, — o brado imperial de.

nossa emancipação.

Assim no terceiro decénio do século XIX o grito de

um Príncipe Bragântino solemnisou a rotura dos nossos vínculos coloniães.

' Meus Senhores. Mui propositalmente divaguei repetindo-vos o que alguém já escreveu sobre o Brazil colonial, porque a palavra fluente do orador official vos

mostrará em phrases buriladas o que foi aquela grande

conquista tão brasileira como eu e vós somos.

• • Auditório illustre e selecto. Fazendo hoje precisa:

mente 100 annos que o Brazil se emancipou, estamos aqui

para solemnisar esta data tão gloriosa para os brazileiros e consequentemente está aberta a sessão.

Tem a palavra o Dr. Geroncio Borba, orador official.

 

 Independência política do Brazil no sen primeiro centenário

 

Conferencia pronunciada no Paço Municipal pelo Dr. Geroncio Borba de Carvalho.

Distincto auditório.

O dia de hoje é todo consagrado á Pátria por ser

hoje a data da sua Independência política, ao mesmo tempo que se completa o primeiro século dessa Independência.

Esse alvoroço, esse estremecimento de alegria e de

 

festas pomposas com. que o paiz todo commemora o primeiro centenário do grande feito, faz-nos perfeitamente

 

recordar a alma vibratil, sonhádora e enthusiasta dos nossos antepassados, dos patriotas da alvorada nacional; e,

ao confrontarmos o heroísmo dos que fizeram a Independência com as possibilidades progressistas dos que hoje

fazem a pátria, que cada vez mais se revelia apta para as

grandes conquistas da civilização, no presente, acóde-nos

á mente a magnifica expressão do grande orador hespanhol Emílio Castelar, quando disse: — "as formas

de ser de uma sociedade não morrem sem dar logar a

novas, do mesmo modo que_as gerações não se despedem

da vida como ondas que desapparecem, sinão para dar

logar a novas gerações como ondas que se renovam".

O povo Canhotinhense, pois, que também descende dessa raça que fez a Independência, não podia

deixar passar despercebida, fazendo qôro unisono com

toda a Pátria Brazileira, a data fulgurante dessa Independência no seu primeiro centenário — o que equivale

a dizer no seu primeiro anniversario, pois que os anniversarios das nações devem ser contados por séculos -—

como ia dizendo, o povo Canhotinhense não podia deixar

passar despercebida a data fulgurante do primeiro anniversario do centenário da nossa Independência política,

quando todo q paiz está em festas por este motivo; e eis

ahi também a razão por que me encontro neste posto arriscado da tribuna a abusar da vossa benévola paciência.

Para me forrar da responsabilidade que me foi dada

e não por mim assumida expontaneamente — de ser o

incompetente interprete desta sumptuosa solemnidade

devo dizer como diria um orador patrício: "há honras

que se não acceitam, mas também não se recusam e nem

as podemos recusar, — accrescentamos, mesmo quando tivéssemos, de antemão, a certeza de não poder corresponder á espectativa do respeitável publico ou mesmo de

comprometter ó brilho da grandiosa festa que estamos a

realizar.

Illustre auditório.

Foi a 7 de Setembro de 1822 com o celebre grito da

"Independência ou morte!" - tido nos fastos da nossa

historia como symbolo glorioso da nossa independência.

 

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politica, e proferido pelo então príncipe regente D. Pedro I nas margens do Ypiranga em S. Paulo, que começámos a viver a vida de nação livre isenta da tutela

 

da nossa gloriosa mae-Ratria, a heróica nação Portugueza.

Os prodromos ou primórdios mais importantes da

nossa Independência foram: os movimentos revolucionários do nosso glorioso Estado, com Bernardo Vieira de

Mello em 1710, o de 1817 com Domingos Theotonio, José

Martins, Padre Miguelinho e tantos outros; o movimento revolucionário, de 1792 em Minas Geraes, com. Tiradentes, e finalmente o Fico.

Digamos alguma cousa sobre este o mais próximo e

decisivo.,

A 9 de Janeiro de 1822 a Camará Mxmicipal do Rio

de Janeiro, em nome do povo, apresentou ao príncipe

D. Pedro I, que ficara como regente d& então reino do

Brazil com a retirada do seu pae D. João VI para Portugal a 26 de. Abril de 1821, apresentou, como diziamos,

ao prineipe uma petição para que Ele, prineipe, não fosse para Portugal e se insurgisse contra a ordem que nesse

sentido viera das qôrtes de Lisboa, as quaes chegaram até

a Abolir os tribunaes mais importantes do Rio de Janeiro e determinaram mais que os governos das provincias

não obedecessem ao governador do Rio e somente ás mesmas cortes, tudo isso com visivel intuito de difficultar a

independência do Brazil. D. Pedro, porém, tomado de

enthusiasmo pela causa brazileira, respondeu a José Clemente Pereira, o presidente da Camará, que lhe entrega-'

rã a mensagem honrosa: "Como é para bem de todos e

felicidade geral da Nação diga ao povo que fico", facto.

occorrido como fica dito, a 9 de Janeiro de 1822, o mesmo]

anuo da Independência.

Estava, pois, lançada a base de nossa indepencia po-jj

litica.

Dahi por deante precipitaram-se os acontecimenr

tos e a 7 de Setembro desse mesmo anno de 1822 foi pr<*;

clamada a nossa independência, tendo a Nação á frente

dos seus destinos o mencionado prineipe, que com o nome

de D. Pedro I foi o primeiro imperador constitucional

e: «orno tal ploclamado a 12 de Outubro e sua coroa

 

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nesse elevado posto effectuada a l de Dezembro do mesinesmo anno de 1822.

 

Vejamos, porém, mais circumstanciadamente, como

se deu o celebre evento no dia 7 de Setembro. A 13 de

Maio de 1822 acceitou D. Pedro o titulo de Defensor

perpetuo do Brazil para si e seus successores e a 3 de

Junho convocou uma Assembléa Constituinte, isto depois de ter feito uma excursão politica a Minas Geraes;

depois que recebeu a noticia de que as cjprtes de Lisboa iam expedir tropas ao Brazil, publicou um manifesto em l de Agosto do mesmo anno, em que concitava os

brazileiros a se unirem afim de conseguirem a sua Independência .

Hávendo D. Pedro a 14 de Agosto partido para S.

Paulo, onde graves questões políticas reclamavam a sua

presença, e tendo alli tido noticias das hostilidades que

contra elíe tomavam as cortes da Metrópole Luzitana,

resolveu proclamar logo a Independência do Brazil; e

desse modo, nas margens do Ypiranga, de regresso da

então província de S. Paulo, soltou o grito de independência ou morte, a 7 de Setembro, feito esse que ficou

como symbolo glorioso de nossa independência e - que o

poeta divinisou na seguinte estrophe:

"Foi alli. foi no Ypiranga,

Que com toda magestade

Rompeu dos lábios augustos

O brado da liberdade."

Dos movimentos revolucionários do nosso Estado e

a que poderia até addicionar as luctas com o batavo invasor, cio movimento de Tiradentes em Minas Geraes e

de outros movimentos em differentes outros Estados, especialmente do norte, como prodromos da nossa independência, deixemos de fazer commentarios. por não

omportal-os o momento.

Todos esses movimentos servem especialmente para

demonstrar que era uma só a alma nacional, que se abraava no mesmo sentimento de patriotismo.

Do nosso heróico Estado onde essas luctas pela liberlade foram mais frequentes e encarniçadas, permitia-

 

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se-nos repetir aqui, a propósito do heroísmo dos seus

 

feitos, o que li, algures: "Para se conhecer Pernambuco, sem mesmo por o pé em terra, basta que de bordo de

um transatlântico o passageiro lance as vistas para terra e veja a fúria com que o oceano atira as suas ondas

sobre os arrecifes. Essa fúria indómita das aguas em

contraste com a calma profunda do nosso firmamento,

retraía bem a alma pernambucana, que tanto tem de

meiga como de indomável." "Aliás é esse mesmo o conceito que poderíamos fazer de toda a alma brazileira

nos seus anceios de liberdade .

Eeatando o nosso assumpto, reaffirmamos que tendo sido D. Pedro coroado, como já dissemos, em l de

Dezembro de 1822 governou até 7 de Abril de 1831.

Para seu ministro e conselheiro escolheu D. Pedro a

José Bonifácio de Andrada e Silva. Homem de grandes

conhecimentos e de arraigado patriotismo, revelou-se o

espirito talhádo para orientar o nosso primeiro imperador na pháse angustiada dos primeiros passos da nossa

independência política; e é assim que a tudo proveu em

todas as dependências da publica administração, revel$ndo-se até grande diplomata como o demonstrou no

estreitamento da nossa amisade com as nações européas,

especialmente com a Inglaterra, França e Hollanda.

O moço imperador tudo fez também quanto em si

cab^a para corresponder ao supremo posto de inoperante

em que hávia se coHocado, revelando-se assim, um, digno do outro e ambos dignos da confiança da Nação nova, que grande pelo seu passado é ainda maior pelas incalculáveis possibilidades do seu futuro.

Desde 1822 até 1831 o nosso primeiro monarchá

obteve um governo de verdadeiras prosperidades, sobrevindo, porém, naquEle ultimo anno complicações políticas áe tal ordem que o fizeram abdicar em 7 de Abril

dê 1831, quando, sendo intimado par uma deputação do.

povo para reintegrar o ministério que Ele hávia demittido e de que fazia parte o grande José Bonifácio, respondera: "Tenho direito de escolher os meus ministros.

Estou prompto a fazer tudo para o povo, nada, porém,

pelo povo.122

 

. Ao entregar o acto da abdicação ao Major Miguel

 

de Frias, disse-lhe: — Estimarei que sejam felizes. Eu

retiro-me para a Europa e deixo um paiz que sempre

amei e que amo ainda."

'Ao retirasr-se para Portugal D. Pedro, deixou como

tutor de seus filhos no Brazil — D. Pedro II e as prin-.

cezas D. Januaria, D. Francisca — o insigne estadista

José Bonifácio de Andrada e Silva — o patriarchá da

Independência.

Essa abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho encheu de jubilo os verdadeiros patriotas e reunidos.

o.s deputados e senadores que se achávam no Rio de

Janeiro proclamaram Imperador a D. Pedro II. que

segundo já dissemos, recebeu como tutor a Jos.é Bonifácio.

Foi então, eleita uma Regência Provisória cie três

membros e depois uma outra Permanente com o brigadeiro Francisco de Lima e Silva, José da Costa Carva-.

lho (Marquez de Monte Alegre) e João Braulio Muniz,

para governar durante a menoridade do Rei. Com a retirada de D. Pedro I appareceram sérios distúrbios no

paiz e na própria corte, que tiveram de ceder á energia

com que agiu o ministro da justiça Diogo António Feijó. Então como medida de segurança creou-se a guarda nacional, em todas as provincias do Império.

Não foi sem grandes apprehensões que se passou o

reinado cia Regência, pois houve receio de que viesse a

voltar para o Brazil o ex-imperador que abdicara e fo-...

ram tomadas precauções contra um projecto de conspiração, em que se acháva envolvido José Bonifácio. de

Andrada, que perdeu o cargo d« tutor do Imperador

e foi preso na ilhá Paquetá, ao mesmo tempo que se tra-,

tava de decretar a expatriação de D. Pedro I; porém

tal medida não chegou a se consummar devido a háver

fallecido

de

1834. o ex-imperador, • em Lisboa, a 24 de Setembro

Foi nesse mesmo anno apresentado um projecto de

lei que modificava a Constituição. Transformado em

lei a 12 de Agosto de 1834, é conhecido com o nome de.

Acto Addicional. Nessa reforma notam-se as seguintes creações: Instituição das Assembléas Provinciáes;

 

 

 

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120

 

 

 

 

formação do Município Neutro; eleição de um só Regente por quatro annos e abolição do Conselho do Estado. Em Outubro de 1835 foi eleito Regente o senador

 

Diogo António Feijó.

Feijó viu desenvolver-se nas Camarás um grande

partido contra Ele, e veio a cahir na impopularidade.

tendo o chefe da opposição Bernardo Vieira de Vascon-.

cellos organigado contra o Regente o partido conservador, que crescendo cada vez mais obrigou o Eegente a se

demittir, seguijido-se-lhe na Regência o Senador Pedro

de Araújo Lima, de 1837 a 1840. Esse partido'conservador que tomara as rédeas do governo com a resignação

do Senador Diogo Feijó, foi pela ordem natural das

cousas perdendo a confanga das Camarás, de tal modo

que no principio de 1840 se encontrou a braços com forte opposição chefiada pelo ardoroso tribuno António

Carlos de Andrade, irmão de José Bonifácio, o qual

apresentou o projecto da declaração da maioridade do

Imperador.

Assumpto da mais elevada importância, agitou a

"maioridade do Imperador a alma dos partidos, até que

por fim os membros do partido liberal, no congresso,

que se organisára em opposição ao conservador, enviaram para solucionar a crise que se formara em torno do

grave problema da maioridade, enviaram, repetimos, ao

joven Imperador uma comrnissao pedindo4hp que assumisse a direcção do governo como único meio de sal.var a crise.

Tendo o Imperador respondido favoravelmente á

dita commissão, foi no dia 23 de Julho de 1840 declarada a maioridade de S. M. D. Pedro Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil.

Desse modo, veio D. Pedro II a ser segundo Imperador do Brazil e como tal coroado a 18 de Julho de

1841 e banido do throno, após cm remado prospero de

48 annos, com o advento do regimen republicano a 15.

de Novembro de 1889. que ora nos governa.

Para não abusar da vossa condescendência em ouvirme, façamos uma rápida resenhá dos episódios, mais notáveis que occorreram n'o- período de quasi meio século

desse reinado, que devemos classificar de venturoso,

 

 

 

121

 

 

 

 

Desses episódios devemos registar como de mais

 

levancia a guerra que sustentamos com o Paragi

por mais de 5 annos, terminando com o glorioso

umpho das nossas armas.

Com o TIruguay tivemos também de entrar em

cta anteriormente á guerra do Paraguay, sendo <

mesma consequência daquela. Em ambas sahimos

nmphántes.

Ont.ro acontecimento, ao nosso ver, o de maior

lhántismo. foi a abolição dos escravos verificada n

de Maio cfe 1888 e aue teve a sua primeira vitória

28 d* Setprnbro de 1871 com a lei n.° 2040 que <-oi

dia liberdpde ?ps filhos das escravas e aue tomou

i«so o noma ^« lei de wtre livre. Effect^ou-a o prr

de estadista Visconde de Rio Branco, aDroveitan-ln-s11

pníwpio <*n Tr^pr-pdor, aue flora por alcrum t^m^o i

•íaT n "tf-i-crn^a deixado sua filhn, n nrinoeza r». T^n.1

Condessa d'En. COTIO rerronte do Império. A io'

princesa era sentaria das vléas nbolicionifitflfl do «PH ri

e conbe-jlhe a floria de assinar a referida lei <1r '"t

Setembro d*3 1871. que emancipava os filhos nn««i<l:)s <

eaT)t?vo«. não obstante a lucta formidável eme se trai

na politio>3 nacional e que operou dissidência no piirl

conservador.

Era isso o grande começo, porém muito aiiul.i p

cisava-se de fazer para dar completa satisfação no CH

rito emancipacionista do paiz.

Ainda foi, a generosa e magnânima princo/íi Isal

que veio emprestar o seu glorioso nome á campanlm ai

licionista que dominava a Nação inteira.

No annn de 1885 as províncias do Ceará e Anui:

nas libertaram todos os seus escravos; o partido ab<i

cionista não cessava de augmentar, contando com vi

tos de excepcionaes grandezas como fossem Joaquim N

buço e José Mariano, para não citar sinão esses dois <

rypheus do movimento libertário no nosso Estudo. \

 

Adoeceu gravemente, em principio de 1887, o li

 

perador e a conselho medico partiu para a Europa, l

eando novamente como regente a prineeza D. l sã l M

 

 

 

122

 

 

 

 

• ne :ardia de desejos por ver terminada a escravidão,,

 

imbuída como estava das idéas abolicionistas.

Os conservadores que eram senhores do Ministério,

a cuja orientação presidia o barão de Cotegipe, seu

Chefe, oppunhám-se á -abolição, porque diziam Eles pelo

steu chefe Cotegipe, — a decretação da reforma aboli-,

cionista traria, como consequência fatal, a vitória republicana. Entretanto, a augusta princeza pensava ao

contrario, e estava capacitada de que a abolição seria um

meio esplendido de adquirir popularidade e enfraquecer o partido republicano que ia ganhándo terreno, dia.

a-dia, em: todas as classes e especialmente entre a moei—•

dade das nossas academias.

O Barão de Cotegipe, para não estorvar a acção daregente D. Isabel, pediu sua demissão, e foi substituído

pelo ministério João Alfredo, grande estadista per-,

nambucario, em 10 de Março de 1888, que se collocou á

frente dos abolicionistas e fez dom que se ;realisasse a

abolição completa dos escravos, sendo a lei da liberdade dos escravos solucionada a 13 de Maio desse mesmo

atino de 1888, através das mais calorosas demonstrações

de jubilo do povo. aue delirantemente acclamava a princeza redemptora. Não houve nação civilisada que não

applaudisse a nossa reforma da redempcão dos ca.pti-,

vos. Estamos a dizer que tinhá razão o Barãa de Cotegipe, quando sentenciara que a abolição traria como con-,

sequência fatal a proclamação da republica.

- Foi o que se deu, pois, voltando D. Pedro II em

'Agosto, da Europa, apezar de ser recebido com caloro.-.

só enthusiasmo popular, tão grande já era a propaganda republicana, que no anno seguinte, a 15 de Novembro de 1889, era proclamada a Republica com o Mar'e:chál Deodoro da Fonseca á frente, cuja historia está

bem viva na. memória dos contemporâneos para que es-'

tèja o humilde conferencista a abusar das vossas béne-c

Volas attenções.

Foi, também a Republica que proclamamos a 15.

de Npbembro de 1889, em forma de Republica Federa-T'

tiyá que ora nos rege, um dos grandes feitos através

ôo primeiro centediario da nossa independência politt-í

ca;'proclamação ; essa -que -não foi mais do que o

-^

 

mento dos sonhos de liberdade, que vinhá acariciando

 

a"-alma bjrazileira desde os seus primórdios.

•'• Maior ainda seria o nosso jubilo neste momento si

odessemos assegurar desta tribuna que em vez de conarmos com uma Republica de 70 a 80 % de analphábetos, podessemos dizer que tínhámos uma Republica

desanalpliabetizada. Então-sim, seriamos verdadeiramente gigantes — pela. própria natureza não somente,

mas também pela cultura do nosso povo, na qual reside, antes de tudo, a força de uma nação! — Se me fosse,

ROÍS, pennfittido fazer uma exhortação nesta occasião so-lemnissima, estaria a recommendar-vos, como o melhor

gesto de patriotismo, que fossemos ao encontro desse acto

do, Exmo-. Sr. Dr. Severino Pinheiro, digníssimo governa dor do Estado, estatuindo o ensino obrigatório- no-'

solo do nosso glorioso Estado.,

Pois aprender & ler é ascender lume e toda syllaba .solettrada lança faiscas, como dizia o incomparável

Victor IIupo. Desaualphábetizemos a Republica, bradando : ensino, sciencia! Esforcemo-nos para que ao completar a Republica o seu meio centenário, já que não

podemos asistir ao segundo centenário da nossa emancipação política, esforcemo-nos, repetimos, para que ao

completar a Republica o seu meio século, o nosso município possa se orgulhár de ser tido como um dos municípios desaníalpliabetizados do nosso Estado.

O grande poeta lozitano, Guerra Junqueiro, numa

da? suas inspirações diz que há mais luz nas vinte e cinco lettras do alphábeto do que em todas as constelações que juncam a abobada celeste.

Para terminarmos digamos, em ultima recommendação — o que disse o inspirado poeta bahiano Castro Alves em fulgurante estrophe:

Livros, livros á mão cheia,

Mande-se o povo pensar

Que o livro cahindo n'"alma

E' gérmen que faz a palma

E' chuva que fez o mar..

 

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Discurso pronunciado na sessão do

 

Paço Municipal, pela creança Cleonice

de Souza C aliado,

 

Illustre e respeitável Sr. Dr. Presidente.

 

Selecto auditório.

 

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. Creança emobra, sinto minh'alma como que elevarse aos paramos do infinito, neste momento solemne em

 

que vejo vibrar de enthusiasmo e de mais indizível alegria o coração brazileiro, na eommemoração de um dos

maiores e extraordinários faustos da nossa historia pátria.

E' que meus senhores, apezar do verdor dos meus

annos, quando meu espirito ainda se achá em formação,

quando principio a receber os primeiros ensinamentos

escolares, através dos livros, que manuseio diariamente,

sinto que minhá alma insopitavelmente se orgulhá, se

enthusiasma, ante os ucssos heróicos feitos, gravados nas

paginas da nossa historia.

E o 7 de Setembro de 1822, dia em que reboou o

brado de "Independência ou morte" 6, indubitavelmente, uma das maiores datas da nossa querida Pátria; é

um dos maiores feitos brazileiros; Ele assigualla a

emancipação de um povo; Ele fincou o marco do nosso

progresso, da uoss-a civilisação, do nosso valor. Justo é

esse preito que lhe rendemos; justa é esta alegria transbordante de cada filho deste glorioso Brazil.

Que vibre a. alma brazileira.

-• Kesta-me, senhores, faze-r votos â natureza para que.

tenhámos ainda, todos nós de solemnizar o segundo centenário da nossa independência.

Viva o Brazill,

 

Discurso pronunciado na sessão magna do Paço Municipal pela creança

 

Anna Rosa dos Passos.

Illnstradissimos Senhores.

Exmas. Senhoras e gentis Senhorinhás.

Completa hoje cem ânuos que nas margens do Ypiraiiga, o Imperador D. Pedro I, num gesto.de patriotismo, deu o grito de "Independência ou morte."

Éis o grito de revolta, o brado de protesto, cuja repercussão, alastrou-se por todo o território brazileiro e

há-de de ir assim atravessando os séculos, e que um povo cioso de sua liberdade, soltou, pelos lábios do seu dirigente, a 7 de Setembro de 1822.

Escreveu-se tiesse dia, á claridade de um sol que

innundava a terra livre da America, a mais brilhánte

pagina da nossa historia politico-social.

Esse feito, que memoramos com enthusiasmo e jubilo, com o mesmo jubilo e entbusiasmo daquEles que

o proclamaram, nada mais significa do que a vitória

de uma aspiração cornmum que se ia tornando, naquela epochá, cada vez mais vehementc no coração dos brazileiros. O Braz.il r.cháva-se submettido á direcção do

velho Portugal >e por isto mesmo privado de sua liberdade. Quebradas, porém, as cadeias qne o prendiam

por tanto tempo, o Brazil, pelo esforço continuado dos

baíalhádores da sua independência, aítingiu o nivel morai dos paízes que se engrandeceram, por iniciativa própria.

Com esse acontecimento, sob qualquer ponto de

vista significativo, deu-se inicio ás reivindicações de um

povo altivo; mudou-se, tempos depois, a forma de governo, dando-se compeítp, .libertação á raça escrava.

Quer dizer: o autoritarismo foi vencido pela democracia de uma gente, que, aviltada e menospresada, chegou

adas.

oceupar um logar de destaque- nas sociedades civilizaAssistiu-se a tudo isto, tendo-se a certeza de que o

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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